Projeto da Av.Paulista Subterrânea (anos 60) |
A Avenida do Povo de São Paulo
Avenida Paulista, centenária, considerada como símbolo da
cidade de S.Paulo. Diversificada, onde arranha-céus de grandes cooperações e
bancos, se espremem junto com galerias de arte, restaurantes, shopping centers,
igrejas,hospitais,algumas poucas residências, escolas e faculdades e também um
parque com muito verde e árvores. Junto a tudo isto ao mesmo tempo é uma das principais vias de transito da cidade,
onde várias ruas cruzam a mesma, como se a avenida fosse um grande coração
pulsante na qual artérias e veias bombeiam o transito por ela. E é claro, não
podemos esquecer que debaixo da terra…ainda corre uma linha de metrô a mais de
20 anos… E ainda existe o principal...em suas calçadas, milhares de seres humanos circulam a pé seus mais de 2 Km
de extensão todos os dias.
Avenida Paulista - Século XXI |
Considerada um dos principais centros financeiros da
cidade, assim como também um dos seus pontos turísticos mais
característicos, a avenida revela sua importância não só como pólo
econômico, mas também como centralidade cultural e de entretenimento.
É lá que ocorre as comemorações das grandes conquistas das maiores torcidas de
time de futebol paulistano. Onde também todo ano ocorre a maior parada GLS do
mundo e ainda a famosa "Corrida de São Silvestre", que em todo 31 de
dezembro, fazem milhares de atletas do mundo inteiro disputam o "último
título esportivo internacional do ano". E a pouco tempo, para democratizar
mais o espaço, aos domingos e feriados, a Avenida é fechada totalmente ao
trânsito e aberta apenas para que a população possa desfrutar do espaço a pé ou
de bicicleta através da ciclovia que cortam a avenida de ponta a ponta.
História
A avenida foi criada no final do século XIX, a partir do
desejo dos paulistanos em expandir na cidade novas áreas residenciais que não
estivessem localizadas imediatamente próximo às mais movimentadas centralidades
do período, por essa época altamente valorizadas e totalmente ocupadas, tais
como a Praça da República, o bairro de Higienópolis e os Campos Elísios. A
avenida Paulista foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1891, por iniciativa do
engenheiro Joaquim Eugênio de Lima e do Dr. Clementino de Souza e Castro (na
época Presidente do conselho de intendências da cidade de São Paulo, atual
cargo de prefeito), para abrigar os paulistas que desejavam adquirir seu espaço
na cidade.
Inauguração da Av.Paulista - 1891 |
Naquela época, houve grande expansão imobiliária em
terrenos de antigas fazendas e áreas devolutas, o que deu início a um período
de grande crescimento. As novas ruas seguiam projetos desenvolvidos por
engenheiros renomados, e nas áreas mais próximas à avenida e a seu parque
central os terrenos eram naturalmente mais caros que nas áreas mais afastadas;
não havia apenas residências de maior porte, mas também habitações populares,
casebres e até mesmo cocheiras em toda a região circundante. Seu nome original
seria "Avenida das Acácias" ou "Prado de São Paulo", mas
Lima declarou:
- “Será Avenida Paulista, em homenagem aos paulistas.”
No fim do anos 1920, seu nome foi alterado para avenida
Carlos de Campos, homenageando o ex-presidente do estado, mas a reação da
sociedade fez com que a avenida voltasse a ter o nome com o qual foi criada e é
conhecida até os dias de hoje.
Joaquim Eugênio de Lima (1845-1902), uruguaio,
associou-se a João Borges de Figueiredo e João Augusto Garcia e iniciaram a
compra de terrenos no espigão entre os rios Tietê e Pinheiros. Em 1890
adquiriram na rua Real Grandeza (depois avenida Paulista) dois terrenos de José
Coelho Pamplona e de sua mulher Maria Vieira Paim Pamplona e no mesmo ano mais
dois lotes de Mariano Antonio Vieira e de sua mulher Maria Izabel Paim Vieira.
Depois adquiriram a Chácara Bela Cintra de Cândido de Morais Bueno. Toda a
região local servia na época de passagem de boiadas a caminho do matadouro. O
plano da avenida foi elaborado pelo agrimensor Tarquinio Antonio Tarant e, como
deveria ser plana, exigiu o aterro de um vale na atual avenida 9 de julho. A
avenida Paulista tinha cerca de três quilômetros de comprimento e doze metros
de largura e foi dividida em: uma parte para bondes, a do centro para
carruagens e a outra para cavaleiros, todas ladeadas por Daiélsios e Rodriguzes.
O piso carroçável era coberto por pedregulhos brancos. Foi inaugurada,
juntamente com a linha de bondes em 1891. O bonde elétrico chegou nove anos
depois, em 1892. Em 1898 procedeu-se a uma reforma, com novo calçamento,
derrubada de quatro fileiras de árvores e alargamento dos passeios, que foram
arborizados com ligustruns e ipês.
O projeto era similar ao das grandes avenidas europeias,
que aos poucos, a nascente burguesia paulistana passou a ocupar com elegantes e
requintados casarões, transformando-a numa das referências mais consagradas da
cidade. A avenida foi aberta seguindo padrões
urbanísticos relativamente novos para a época: seus palacetes possuíam regras
de implantação que, como conjunto, caracterizaram uma ruptura com os tecidos
urbanos tradicionais. Os novos palacetes incorporavam os elementos da
arquitetura eclética (tornando a avenida uma espécie de museu de estilos
arquitetônicos de períodos e lugares diversos) e dos novos empreendimentos
norte-americanos: estavam todos isolados no meio dos lotes nos quais se
implantavam, configurando um tecido urbano, diferente do restante da cidade,
que alinhava a fachada das edificações com a testada do terreno. Isso fez com
que a avenida possuísse uma amplidão espacial inédita na cidade.
Av.Paulista - início do século XX - casarões dos Barões do Café |
A avenida Paulista foi a primeira via pública asfaltada
de São Paulo, em 1909, com material importado da Alemanha, uma novidade até na
Europa e nos Estados Unidos. Esse perfil estritamente residencial da avenida
permaneceu até meados da década de 1950, quando o desenvolvimento econômico da
cidade levava os novos empreendimentos comerciais e de serviços para regiões
afastadas do seu centro histórico.
Durante as décadas de 1960 e 1970, porém, e seguindo as
diretrizes das novas legislações de uso e ocupação do solo, e a valorização dos
imóveis incentivada pela especulação imobiliária, começaram a surgir naquele
local os seus agora característicos "espigões" - edifícios de
escritórios com 30 andares em média. Durante esse período, a avenida passou por
uma profunda reforma paisagística. Os leitos destinados aos veículos foram
alargados e criaram-se os atuais calçadões, caracterizados por um desenho
branco e preto formado por mosaico português. O projeto de redesenho da avenida
ficou a cargo do escritório da arquiteta-paisagista Rosa Grena Kliass, enquanto
o projeto do novo mobiliário urbano da avenida foi assinado pelo escritório
Ludovico & Martino.
No subterraneo
Em 1967, engenheiro Figueiredo Ferraz(1918 - 1994) e o
arquiteto Nadir Mezerani, conceberam a ideia chamada "Nova Paulista",
que tinha por objetivo principal, transferir o transito de veículos da
superfície para uma área subterrânea, e deixar a parte de cima da avenida livre
para circulação de pedestres. O prefeito da época, Faria Lima, acatou a ideia e
começou a tirá-la do papel. As primeiras obras de ligação foram realizadas
entre a Avenida Rebouças, Paulista, Doutor Arnaldo e a Rua da Consolação. O
primeiro trecho foi inaugurado em 1971.
Isto se tornou o exemplo factível do que poderia ter se tornado a
Paulista em toda sua extensão.
Projeto da Av.Paulista Subterrânea (anos 60/70) |
Logo após essa inauguração, Figueiredo Ferraz é eleito
para a prefeitura da cidade de São Paulo. Sua obra é levada adiante pelos
subterrâneos da Avenida Paulista e as escavações avançaram até a outra ponta,
mais especificamente, na região da Paraíso. O projeto passou a sofrer forte
oposição por parte do governo militar que tomava conta do país. O prefeito
Ferraz, então, começou a se indispor com a ditadura e, em 1973, o governador
Laudo Natel o demitiu por carta e nomeou Miguel Colassuono como novo mandatário
da cidade. Sua primeira atitude, obviamente, foi interromper a obra iniciada
por Figueiredo Ferraz.
Colassuono alargou a Paulista e abandonou o túnel
deixando, assim, a transformação da avenida em calçadão inviável. Segundo Nadir
Mezerani, um dos autores do projeto, a Nova Paulista sofreu forte oposição
devido aos apartamentos, escritórios e outros empreendimentos que haviam
ocupado, de maneira indevida, o subsolo da avenida.
Unica trecho subterrâneo que existe. Trecho perto da Dr.Arnaldo /Consolação/Rebolças |
O túnel semiaberto também contaria com galerias
comerciais e se interligaria com a linha 2-verde do Metrô, projetada para
passar no nível abaixo. A via subterrânea teria conexões com as avenidas 9 de
Julho e 23 de maio e com a praça Oswaldo Cruz. A passagem das outras vias
transversais permaneceria na superfície, cortando o calçadão.
Um projeto abandonado e uma nova visão
Na opinião do arquiteto Nadir Mezerani, a insatisfação
com obras concluídas na época como o Minhocão e a praça Roosevelt, na região
central, ajudou a reforçar as críticas ao projeto da Paulista. "Foi fácil
comparar a obra da Paulista com mais um monstrengo de concreto", diz
Mezerani. Ele e o escritório Figueiredo Ferraz trabalharam posteriormente na
revisão do projeto e o apresentaram a outras gestões municipais, como a de
Marta Suplicy (PT) que vetou o projeto. Para o arquiteto, o projeto mantém sua
força porque a Paulista tem uma grande importância econômica e se transformou
no "centro cívico" da cidade.
Projeto revisto por volta do ano 2001 |
Além disso, a cidade tem grande carência de espaços de
convivência e lazer. "A Paulista é a centralidade. Virou o símbolo da
cidade. Para o ambiente urbano, é indispensável jogar os carros para baixo
[para o subsolo]". Segundo Mezerani, não é mais possível fazer um túnel
semiaberto. A solução agora seria construir um túnel fechado. Ele calcula que a
obra toda poderia ser concluída em um prazo de três anos.
Recentemente, durante a gestão de Fernando Haddad(PT),
uma ciclovia foi incorporada no canteiro central da avenida, e aos domingos e
feriados, a Paulista é fechada completamente para o transito, deixando livre
para a população andar e passear, projeto que tem sido mantido na gestão João
Doria/Bruno Covas (PSDB).
Mas e as 22 galerias abandonadas do projeto ? Segundo
reportagem do Estadão de S.Paulo de dezembro de 2010, o mapeamento realizado
pela antiga Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), atual SP Urbanismo,
mostra que esses espaços no subsolo variam de 26 a 2.440 m², somando cerca de
13 mil m². Como o preço do metro quadrado de depósitos subterrâneos na região
fica entre R$ 3 mil e R$ 5.300, de acordo com avaliação da Empresa Brasileira
de Estudos de Patrimônio (Embraesp), a Paulista guarda nessas galerias um
patrimônio que chegaria a R$ 62 milhões, se as áreas estivessem em bom estado.
Os espaços estão deteriorados e precisam de reformas. Hoje essas galerias são
públicas, mas nenhum departamento da Prefeitura soube informar quem é
responsável por elas. Os dados sobre a existência ou não de projetos de uso do
local são controversos e a assessoria de imprensa da Prefeitura evita comentar
o assunto, alegando que nada pode ser feito ali.
Na época do início do projeto no final dos anos 60, a via
foi expandida em 10 metros de cada lado, passando de 28 para 48 metros de
largura. Com o recuo dos prédios, as entradas e as instalações subterrâneas - a
maioria garagens - foram desapropriadas, dando origem a bolsões. Eles ficaram
abandonados após a suspensão das obras, em 1973. Só em 2004, por iniciativa da
Associação Paulista Viva, o uso do espaço voltou a ser discutido com a
Prefeitura. No entanto, o comitê técnico formado não seguiu adiante, por causa
da dificuldade de achar solução viável. Segundo o arquiteto Nadir Mezerani,
hoje o caminho do túnel tem pela frente 22 construções irregulares, entre elas,
garagens de prédios, o caixa-forte de um banco estatal e a quadra de esportes
de um clube. Segundo a Paulista Viva, das 22 galerias, pelo menos 9 estão
ocupadas irregularmente por prédios e lojas. A SP Urbanismo não descarta
ocupações ilegais. "Quando a Prefeitura fizer um novo cadastro, vai achar
até o que Deus duvida", disse Regina Monteiro, diretora de Paisagem Urbana
da SP Urbanismo.
Em 2014, a cineasta Sonia Guggisberg, lançou o curta-documentário
“Subsolo”, contando a história do projeto com entrevistas com Boris Casoy (porta voz do prefeito na época),
do arquiteto Nadir Mezerani, do urbanista Celso Franco, entre outros. Sonia
encontrou a avenida subterrânea quando pesquisava aquíferos para seus projetos
de vídeo-instalações. A partir dessa descoberta, há um ano e meio atrás, iniciou
uma pesquisa que resultou num documentário sobre o “subsolo social” brasileiro,
com o objetivo de trazer à luz histórias ocultas. Na esteira desse espaço
público soterrado, Sonia mapeou diversas histórias que foram escondidas, do
regime militar até hoje. Uma delas é a formação do Ibama, criado como uma
estratégia política para que o Brasil recuperasse relações internacionais e
limpar a barra nas questões ligadas ao meio ambiente.
Eu ainda sonho com o Projeto da Paulista Subterrânea...
Fonte: Wikipedia
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