terça-feira, 10 de novembro de 2020

Connery...Sir Connery (1930-2020)

 



Ele era um dos maiores mitos heroicos da história do cinema. Seu carisma, rigidez, charme e postura, levaram milhares de pessoas aos cinemas nos últimos 50 anos. Infelizmente, o ator escocês Sean Connery, o eterno James Bond, já não está mais entre nós. Na manhã do dia 31 de outubro, sua família, através de seu filho Jason Connery, informou que o ator faleceu, enquanto dormia em sua residência em Nassau, nas Bahamas, onde morava desde que saiu da Europa em 1999. Segundo Jason, seu pai  "já não estava bem, a algum tempo". A causa da morte não foi revelada, mas sua última esposa, Micheline Roquebrune, pintora francesa casada com o eterno o ator desde 1975, revelou : “Ele tinha demência e isso realmente teve efeitos negativos sobre ele. Ele era magnífico e tivemos uma vida maravilhosa juntos”, afirmou Roquebrune. “Vai ser muito difícil sem ele, eu sei. Mas não poderia durar para sempre e ele se foi em paz”, completou.

Thomas Sean Connery, nasceu em Edimburgo, na Escócia em 25 de Agosto de 1930, em uma família muito pobre. Filho de um pai católico e uma mãe protestante, que trabalhava como doméstica. Pra sobrevivência da família, teve que trabalhar desde cedo,  começou a vida como leiteiro em sua terra natal e até ter sua primeira oportunidade na vida artística, num musical chamado South Pacific, serviu na Marinha Real, foi motorista de caminhão e modelo vivo para artistas do Colégio de Artes de Edimburgo. Nesta época ele foi terceiro colocado no concurso de Mister Universo de onde, através da insistência de um amigo, saiu para fazer os testes para a peça, que acabou lhe abrindo o caminho para o trabalho de ator nos palcos, na televisão e nas telas de cinema.


007 



Após trabalhos menores no cinema e na televisão inglesa, entre o fim dos anos 50 e começo dos 60, Connery chegou à fama internacional na pele do agente James Bond no filme "007 Contra o Satânico Dr. No" em 1962, que inauguraria a mais bem sucedida e longeva série cinematográfica, que em 2012 completou 50 anos, e da qual Connery fez seis filmes oficiais, marcando o personagem de maneira definitiva. Em 1971, depois de "007 Os Diamantes são Eternos", Connery deixou o personagem (por apenas doze anos, já que voltaria a ele em 1983, no filme "007 Nunca Outra Vez", uma refilmagem de "007 Contra a Chantagem Atômica", feita numa produção de menor qualidade e com um Connery já envelhecido e que se revelou um fracasso de crítica e de bilheteria) para investir numa carreira mais diversificada. Até hoje, sua atuação como James Bond, tem sido apontada como a melhor de todos os atores que vieram posteriormente. 


Vida além de Bond


Sem querer ficar marcado apenas como o papel do famoso agente secreto, aceitou outros desafios mais difíceis, como trabalhar com o cineasta, Alfred Hitchcock, no filme "Marnie: Confissões de uma Ladra"(1964), ao lado da atriz Tippi Hedren, com um sucesso moderado de crítica e bilheterias. Após passar o bastão de 007, para o amigo, Roger Moore, Connery, tentou alcançar outros voos cinematográficos na carreira. Como o western "Shalako"(1968), ao lado da sex symbol, Brigitte Bardot.  "O Vento e o Leão" (1974), dirigido por John Milius, onde atuou ao lado de John Huston e Candice Bergen. O marcante "O Homem Que Queria Ser Rei" (1975) dirigido por John Houston, onde atuou ao lado dos amigos Michael Caine e Christopher Plummer, um filme de aventuras baseado no livro de Rudyard Kipling. "Robin and Marian"(1976), na qual viveu um veterano Robin Hood com a atriz Audrey Hepburn como Lady Marian. 


Apesar de uma carreira bastane extensa, acabou fazendo pouca ficção-científica, dentre os destaques estão "Zardoz"(1973), de John Boorman, ao lado da atriz Charlotte Rampling, "Meteoro" (1979),  "Outland: Comando Titânio" (1981), além de "Os Bandidos do Tempo"(81).

Connery em Outland (1981)


Os anos 80, trouxeram uma ampliação ainda maior a carreira de Connery, principalmente por sua importância no cinema de ação e aventuras, na qual era geralmente chamado para fazer aqueles personagens sábios que passam a experiência e sabedoria, para os atores mais jovens. Isto acabou levando a trabalhar com diretores e atores de grande nível de qualidade e finalmente conseguir seu único Oscar na carreira, como ator coadjuvante pelo filme "Os Intocáveis" dirigido por Brian De Palma na qual atuou ao lado de Kevin Costner e Robert De Niro em 1987. Esta atuação deu a Connery seu único Oscar, como Melhor Ator Coadjuvante em 1988.



 Outros papeis que seguiram esta linha de mestre, estão também em "Highlander - O Guerreiro Imortal"(1986), ao lado de  Christopher Lambert, o drama medieval baseado no livro de Humberto Eco, "O Nome da Rosa" (1986), onde atuou ao lado de Christian Slater e Ron Perlman. Um dos grandes destaques também desta fase, podemos destacar : "Caçada ao Outubro Vermelho"(1990), na qual faz um comandante de um submarino da antiga URSS, que quer desertar para o ocidente na qual trabalhou ao lado de Sam Neill e Alec Baldwin, uma adaptação da literatura de espionagem dirigido por John McTiernan, baseado no livro de Tom Clancy e "Sol Nascente" (1993), baseado em romance de Michael Crichton, dirigido por Philip Kaufman atuando junto de Wesley Snipes.

Highlander - O Guerreiro Imortal (1986)

Entre os vários personagens famosos que encarou na vida, estão Robin Wood(Robin and Marian), O Rei Ricardo Coração de Leão(Robin Hood)  e o Rei Arthur (Lancelot - O Primeiro Cavaleiro). Ele nunca chegou a fazer filmes de Sherlock Holmes, um dos maiores personagens da literatura britânica, mas seu personagem Guilherme de Baskerville em "O Nome da Rosa" foi baseado em Sherlock.

O Nome da Rosa(1986)

Mas os bons papeis começaram a rarear. Filmes como "A Casa da Russia"(1990) ao lado de Michelle Pfeiffer, "O Curandeiro da Selva"(1992) ao lado do brasileiro José Wilker, "Lancelot"(1995) ao lado de Richard Gere, não foram muito bem nas bilheterias. Mas a gota d'água foi o filme "A Liga Extraordinária"(2003), na qual Connery interpreta um veterano Alan Quarterman, neste filme, um grande fracasso de público e críticas, fez Connery repensar sua carreira, após várias desavenças com o diretor Stephen Norrington. Logo após a estreia, o ator anunciou sua aposentadoria e continuou assim até seu falecimento em 2020.


A Liga Extraordinária (2003)


Connery foi nomeado Cavaleiro pela Rainha em uma cerimônia de investidura no Palácio Holyrood em Edimburgo em 5 de julho de 2000. E após cinco décadas na frente das câmeras, o ator, que nunca se adaptou ao estilo de vida de "Hollywoodiana", decidiu se afastar das telonas nos anos 2000, quando passou a levar uma vida mais tranquila e  reclusa, jogando golfe.



Sua aposentadoria, não significava reclusão, pois sempre era visto em eventos, geralmente em sua homenagem, como a cerimônia na AFI em 2006, um prêmio tributo a sua carreira, na qual os cineastas Steven Spielberg e George Lucas, além dos atores Andy Garcia, Julia Ormond, Mike Myers e Pierce Brosnam (o 007 naquele período) entre outros fazem discursos em homenagem a Connery. O último a discursar foi o ator Harrison Ford, que entrega o prêmio a Connery, ao som de uma banda escocesa. 




Pai do Indy

Quando os cineastas George Lucas e Steven Spielberg estavam planejando a terceira aventura para os cinemas do personagem Indiana Jones, o diretor Spielberg sugeriu a Lucas, que produzia o filme, a inclusão do ator Sean Connery, como pai de Indy. Lucas a princípio rejeitou a ideia, pois iria tirar o foco na busca do Graal, mas acabou cedendo e o ator foi contratado com aval também do ator Harrison Ford. O filme, "Indiana Jones e a Última Cruzada", acertou em cheio e apesar da pouca idade entre Connery e Ford (apenas 12 anos), houve uma boa química entre os dois no filme e se tornou um grande campeão de bilheterias em 1989.

Por vários anos, houve a intenção de se fazer um quarto filme, um projeto que levou 18 longos anos, tempo que fez o próprio ator Sean Connery, a desistir após saber que seu personagem teria pouca importância, então pediu a George Lucas, que ele poderia ser morto. Em 2008, chegou as telas "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal", que trouxe uma rápida cena na qual Indiana lembra seu pai já falecido (junto com Marcus Brody), uma foto do Prof .Henry Jones, aparece na escrivaninha do herói.

Indiana Jones e a Última Cruzada


Homenagens pelo mundo

Assim que a notícia do falecimento de Connery, começa a circular, começam surgir também mensagens de homenagens de seus colegas e amigos. Entre os principais destaques de celebrações estão obviamente EON Productions, a produtora oficial dos filmes de 007, segundo a nota oficial da empresa assinada pelos produtores Michael G. Wilson e Barbara Broccoli:


“Estamos arrasados com a notícia do falecimento de Sean Connery. Ele foi e sempre será lembrado como o James Bond original, cuja entrada indelével na história do cinema começou quando ele anunciou aquelas palavras inesquecíveis - “O nome é Bond… James Bond” - ele revolucionou o mundo com seu retrato corajoso e espirituoso do sexy e carismático agente secreto. Ele é, sem dúvida, o grande responsável pelo sucesso da série de filmes e seremos eternamente gratos a ele. ”


Os outros atores que interpretaram James Bond no cinema, também prestaram homenagens a Sir Connery


Lazenby substituiu Sean Connery em 1969 no filme 007 – A Serviço Secreto De Sua Majestade. O ator prestou uma homenagem em suas redes sociais:

“Apenas há algumas semanas eu estava desejando o melhor a Sean em seu 90º aniversário. Agora, estou muito triste por ter que estar de luto com sua família e amigos. Claro, Sean Connery como James Bond, me inspirou pessoalmente e encapsulou uma era, os anos sessenta. Encontrei Sean algumas vezes e fiquei satisfeito por ele ter dado ao meu filme de Bond, ‘On Her Majesty’s Secret Service’, o seu selo de aprovação. Por muitas vezes, ele quase fez o meu filme, pois sentia que era a melhor das histórias de Fleming. Mas, pessoalmente, o mais importante é que seu trabalho foi muito além de Bond: na caridade, na família, na política e no golfe. Um homem que guardo no coração. Um grande ator, um grande homem e um artista subestimado nos deixou. Meus pensamentos estão com os filhos e netos de Lady Micheline e Sean. Só amor, George.”


As redes sociais oficiais administradas pela família de Sir Roger Moore(1927-2017), também lamentaram a morte de Connery.

“Como é infinitamente triste ouvir a notícia da morte de Sir Sean Connery. Ele e Roger foram amigos por muitas décadas e Roger sempre afirmou que Sean era o melhor James Bond de todos os tempos. Descanse em Paz.”


Timonty Dalton, que deu vida ao personagem nos filmes 007 – Marcado Para A Morte (1987) e 007 – Permissão Para Matar (1989), lamentou a morte de Sean em comunicado publicado pelo The New York Times:

“Sean foi uma presença maravilhosa. Um grande protagonista.”


Pierce Brosnan:

“Sir Sean Connery, você foi meu maior James Bond quando menino e como um homem que se tornou o próprio James Bond. Você lança uma longa sombra de esplendor cinematográfico que viverá para sempre. Você abriu o caminho para todos nós que seguimos seus passos icônicos. Cada homem, por sua vez, olhou para você com reverência e admiração, enquanto avançávamos com nossas próprias interpretações do papel. Você foi poderoso em todos os sentidos, como ator e como homem, e assim permanecerá até o fim dos tempos. Você foi amado pelo mundo e fará falta. Deus te abençoe, descanse agora, fique em paz.”


A declaração de Daniel Craig foi publicada no perfil oficial de @007 no Twitter: 

“É com muita tristeza que soube do falecimento de um dos verdadeiros grandes nomes do cinema. Sir Sean Connery será lembrado como Bond e muito mais. Ele definiu uma época e um estilo. A inteligência e o charme que ele retratou na tela podiam ser medidos em megawatts. Ele ajudou a criar o blockbuster moderno, e continuará a influenciar atores e cineastas por muitos anos. Meus pensamentos estão com sua família e entes queridos. Onde quer que ele esteja, espero que tenha um campo de golfe.”


Ursula Andress, 84 anos, lamentou a morte de Sean Connery e relembrou a química com o ator em 007 Contra o Satânico Dr. No, estreia da franquia 007 nos cinemas, no qual ela interpretou a Bond Girl Honey Ryder:

“Ele foi muito protetor comigo, adorável e fantástico. Ele adorava as mulheres. Eu não conhecia Sean e pensei que seria meu primeiro filme, e talvez o último. Mas o longa decolou, a química entre nós funcionou e foi a combinação perfeita“, lembrou.


Connery também deu vida ao Pai do Indiana Jones, que também ganhou uma homenagem especial nas paginas oficiais da Lucasfilm, empresa que produz os filmes da franquia Indiana Jones. Os produtores Frank Marshall e Kathy Kennedy: 

“Sir Sean Connery será lembrado por seu talento, seu charme, sua sagacidade e os muitos papéis inesquecíveis que desempenhou, mas ele sempre será o pai de Indy para nós. Foi uma honra conhecer e trabalhar com ele e nossos corações estão com sua família e entes queridos. ”


O cineasta George Lucas declarou:

“Sir Sean Connery, por meio de seu talento e energia, deixou uma marca indelével na história do cinema. Seu público se estendeu por gerações, cada um com seus papéis favoritos. Ele sempre terá um lugar especial no meu coração como pai de Indy. Com um ar de autoridade inteligente e senso astuto de travessura cômica, apenas alguém como Sean Connery poderia transformar Indiana Jones imediatamente em pesar ou alívio infantil por meio de uma severa reprimenda paterna ou um abraço alegre. Sou grato por ter tido a sorte de ter conhecido e trabalhado com ele. Meus pensamentos estão com a família dele."


Em em comunicado à revista "Variety", o ator Harrison Ford falou:

"Ele foi meu pai. Não na vida, mas em 'Indy 3' . Você não sabe o que é prazer até que alguém te pague para levar Sean Connery para um passeio no carro lateral de uma moto russa por uma trilha acidentada e sinuosa em uma montanha e poder assistir a ele se contorcer. Deus, a como nos divertimos — se ele está no céu, torço para que tenham campos de golfe. Descanse em paz, meu amigo."


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Lançamento do single "Call Me" completa 40 anos



A história de “Call Me” um dos maiores sucessos do Blondie.



Corria o ano de 1980, o início de uma nova década que parecia ser bastante promissora.  A cultura pop estava muito alta, seja na moda, no cinema ou na música. O cineasta Paul Schrader, queria levar as telas uma estória ousada de um 'profissional do sexo' masculino,  em um mundo elitista que satisfazia mulheres ricas. Tema considerado ainda um verdadeiro tabu nesta época.  O filme foi classificado com neo-nair e drama criminal. A Paramount, relutante no início, deu sinal verde a produção de Gigolô Americano (American Gigolo)  na qual Schrader assumiu como diretor e roteirista com produção de Jerry Bruckheimer, produtor que ainda faria seu nome em filmes blockbusters alguns anos depois.  A Paramount, resolveu apostar alto no filme, convidou atores jovens e bonitos para a produção, o iniciante Richard Gere e a modelo Lauren Hutton.  O produtor Bruckheimer, chamou o tarimbado produtor musical italiano Giorgio Moroder para criar a trilha sonora.



Moroder, obviamente aceitou a proposta, e convidou a banda Blondie, para tocar o tema principal, que seria a abertura do filme.  Nascia assim, "Call Me", um dos singles de maior sucesso da banda e dos anos 80,  primeiro lugar nas paradas nos EUA, no Reino Unido e em boa parte do mundo...mas como surgiu este clássico ?

Conta-se que o produtor Giorgio Moroder, tinha outra ideia para cantora da canção, que não era inicialmente Debbie Harry, vocalista do Blondie, mas Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, outra banda famosa neste período. Moroder fez o convite a Nicks para ajudar na composição e cantar na faixa, mas ela recusou, pois o contrato dela com a gravadora Modern Records, impedia trabalhos com Moroder. O Blondie só surgiu no caminho de Moroder, pois era a única disponível que não estava em gravação de novo álbum.


Nos primeiros encontros com Debbie Harry e a banda, Moroder mostrou uma música instrumental que ele tinha composto chamada "Man Machine", e pediu para Debbie compor a letra e a melodia da canção. Processo que ela conseguiu fazer em poucas horas. A letra foi escrita na perspectiva do personagem de Richard Gere, o 'prostituto masculino'. Debbie disse que as letras foram inspiradas por suas impressões visuais ao assistir ao filme e que "Quando eu estava escrevendo, imaginei a cena de abertura, dirigindo na costa da Califórnia".

Junto a produção musical e auxiliando Moroder, estava seu fiel escudeiro, o músico alemão Harold Faltermeyer. Em entrevista ao Red Bull Music por volta de 2014, revelou que a gravação de "Call Me" não foi as mil maravilhas em termos de produção.

" Nós fizemos essa música com o Blondie. Jerry Bruckheimer solicitou uma música e Giorgio escreveu a música, e como sempre acontece nos filmes, você precisa de um artista e de onde obtê-lo? Você não pode simplesmente pegar carona com um artista qualquer, você só precisa de alguém. O problema é que a maioria deles estavam no trabalho de seu próprio álbum ou está em turnê ou simplesmente não estavam disponíveis. Portanto, é bastante difícil conseguir o artista que você deseja fazer uma música para um filme. A menos que você lhes pague uma fortuna, então você ganha todo mundo. O Blondie estava no meio de um álbum, mas eles acharam que seria uma boa ideia fazer uma música especialmente para um filme, porque eu sei que Debbie gostava de Richard Gere."

Faltermeyer continua:

"Blondie se comprometeu(a gravar)  e então fomos para Nova York. Primeiro de tudo, fizemos uma, o que eu chamo de grade, porque essa música foi usada no filme também bloqueada na imagem. Gravamos uma primeira sessão e a levamos de volta a Nova York, que não foi muito apreciada pelo grupo porque eles pensavam que podiam tocar tudo sozinhos. Giorgio sempre foi um cara que não quer passar horas e horas no estúdio. Tudo tinha que ser rápido e isso bastava. Você sabe como são os grupos de rock 'n' roll, eles passam tempo e tempo, depois fumam maconha e depois fazem uma pausa. E então eles vão ... pensar... Fazem uma pausa para relaxar novamente e voltar a gravar. Portanto, percebi imediatamente que aquele não era o mundo de Giorgio. Em Nova York, finalmente os convencemos a usar nossa trilha, porque poderíamos, é claro, justificar porque precisávamos dessa grade porque era para o filme e tínhamos que fazê-lo. Com uma música de filme, é sempre uma questão de fazer as coisas rapidamente e de não passar um ano com o grupo em um álbum. Blondie estava gravando sua voz em Nova York e o Sr. [Chris] Stein estava gravando sua guitarra. E eu estava criando na época, então lembro que a guitarra de Chris, acho que era o seu primeiro nome, sempre que ele tocava era como barulho. E quando ele parou de tocar, ele imediatamente cortou o volume. Eu disse: “Chris, o que você está fazendo aqui? Isso soa uma merda. ”Ele disse:“ Tudo bem quando eu tocar, isto será bom. ”“ Você poderia deixar o volume aberto por um tempo enquanto não está tocando? ”“ Não. Não. Não. Não. Não posso. ”Finalmente, consegui que ele mantivesse o volume aberto e você não pode acreditar no que ouvi. Era como um silvo, zumbido, problemas no chão e tudo em sua guitarra, e quando ele apenas tocou a corda, de alguma forma estava tudo bem, mas, é claro, era inaceitável gravar. Então tivemos que passar um dia na configuração do amplificador e nas guitarras dele e acertar as bases e tudo para fazer uma gravação decente."

"Eu sabia que estavam na moda em Nova Iorque naquele período. Mas gravar com o Blondie foi um pouco demais. Quero dizer, estou interessado em tudo o que há de novo, mas se são apenas problemas técnicos e isto realmente não soou, foi terrível. Conseguimos que eles fizessem a gravação e depois conversei com o tecladista. Eu disse: “Sim, tenho outra ideia para isso e aquilo.” E então tentamos gravá-lo. Não conseguimos sincronizar essas coisas e Giorgio disse: "Ok, pessoal. É isso". Voltamos para Los Angeles. Mas a banda nos disse: ""Bem, o disco ainda não terminou."" Respondemos que iriamos terminar em Los Angeles. Então pegamos as fitas de volta e terminamos, e tivemos uma discussão bastante séria com a banda porque eu toquei a parte solo da música, o que, é claro, de alguma maneira eu a entendo. O tecladista gostaria de tocá-la e ele realmente não gostou do que eu fiz, mas, de qualquer forma, a coisa acabou e foi um grande sucesso. Foi um dos maiores sucessos de Giorgio, e isso é toda a história."

Giorgio Moroder, quando entrevistado pelo Red Bull Music Academy, alguns dias depois , também fez revelações sobre "Call Me". Moroder disse que o projeto começou quando ele foi convidado pelo produtor de cinema Jerry Bruckheimer, para o filme 'Gigolo Americano' (American Gigolo) e pediu pra ele:  "Eu preciso de algo realmente dirigido, algo meio rock, mas ainda pop, para a cena de abertura do filme quando ele, o gigolô, Richard Gere, dirige para a cidade pronto para conquistar Hollywood". Segundo Moroder, a banda Blondie foi a primeira escolha e não poderia haver mais ninguém pra cantar, pois a imagem da banda era muito boa naquele momento: "Eles eram o grupo do quadril naquela época. E então eu dei a música para Deborah, e ela criou esse grande título, 'Call Me'. Então gravamos a música, com a banda em NY, eu acho nos estúdios da Electric Lady."

Moroder continua sobre a gravação: " E foi bem interessante, porque eu sempre trabalhava com músicos, certo? Músicos profissionais. Eles eram todos grandes músicos, mas, você sabe, ainda é um grupo. Então, das coisas que eu lembro. O baterista(Clem Burke), um ótimo baterista, mas se pudesse, teria feito um preenchimento a cada duas barras. Então ele era assim [imita a bateria]. Então eu disse:"OK, eu sei que você é um ótimo baterista, mas você pode fazer isso a cada oito compassos? Possivelmente a cada 16? ”“ Não, mas tem que ...! ”Então tivemos uma briga, uma luta criativa, e ele ainda estava tocando bateria. E agora você ouve. Está bem. Ele fez bem. O único problema então, nós gravamos aqui Nova Iorque, eu levei de volta para Los Angeles e adicionamos o solo. E eles não gostaram. Eles disseram: "Por que você não voltou aqui e eu poderia ter feito isso?" E falei : "Olha, nós tínhamos um prazo. Tinha que ser feito. ”E nós fizemos. E soou bem. Mas um dos problemas de grupos, como o Blondie, foi que  eles nunca quiseram tocar a música. Para o Blondie, a música deles era, por exemplo, o que eles tinham, era essa a música deles. Essa música realmente não se encaixava na imagem deles, certo? Então eles realmente não gostaram de tocar."


Debbie Harry e Chris Stein, também entrevistados para o Red Bull Academy, também deram suas versões ao fato. Seria verdade que eles não ficaram felizes em compor e tocar "Call Me" como Moroder havia falado dias antes ?

Debbie explicou: "Ah não. Nosso tecladista (Jimmy Destri) recusou-se a tocá-la, porque substituiu seu papel. Ele ficou muito insultado por isso."

Chris Stein: " Sim, quero dizer, Giorgio era Giorgio. Era Giorgio e ele tinha dois caras, um era engenheiro e o outro era guitarrista e tecladista, e tenho certeza que eles substituíram várias partes de nossas partes. Podemos ter inventado e influenciado as partes, mas acho que elas foram refinadas por alguns desses caras. Clem está definitivamente lá, com certeza. Além disso, não posso ter certeza, porque apenas trabalhamos com ele muito rapidamente, desenvolvemos uma versão da coisa e, em seguida, ele disse que estava bem e, na próxima coisa, sabemos que ouvimos o produto final. Eu sei que é o pessoal do sintetizador dele, é o som padrão dele."



Fonte: Red Bull Academy