quinta-feira, 30 de outubro de 2025

RETORNO A SÃO PAULO POR 24 HORAS - C6 FEST 2025 - Parte 2

C6 FEST - Ou como se fazer um festival bacaninha para um público deslocado..


O prato principal da minha ida a São Paulo, sem sombra de dúvidas foi para assistir ao C6 FEST 2025, no Ibirapuera. Depois de chegar da FAAP, ter algumas poucas horas de descanso, um banho reforçado, vestir o uniforme pro show, no caso a camiseta do AIR(evocando Moon Safari), que comprei na web a alguns meses atrás e por ser uma noite fria, São Paulo requer blusão e moletom...com a camiseta do AIR na frente...bora então pegar Taxi, já que o UBER me deixou na mão...

Cheguei na entrada 1 e 2 do Ibirapuera, em frente ao Obelisco, adentrei sem muvuca ou surpresa...o caminho rodeava o auditório, com sua entrada linda com luzes e holofotes no céu e no desenho lindo da arquitetura de Niemeyer que dá nome ao auditório com todo aquele ar mágico. Revista do segurança, registro do bilhete,  pulseira cashless carregada e o gramado em frente ao palco externo do auditório já estava tomado de gente. E aquele ambiente era bem selecionado, com várias personalidades, jornalistas, youtubers, deslocados, alternativos, todos ali pra ver o espetáculo que prometia. Vi muitas pessoas com camisetas do Pretenders, mas nada de AIR...só eu. O Parque Ibirapuera, com sua integração única entre natureza, arquitetura e agora música, foi o melhor lugar pra se fazer um festival.


É interessante notar que foram três estruturas de shows dentro do mesmo festival, sendo que um palco menor, serviu para o pessoal mais indie e novo, uma arena fechada serviu para o pessoal DJ e finalmente a área interna do auditório Niemeyer, serviu para os artistas de Jazz/Blues nos dois primeiros dias da semana, e o palco principal, que seria o palco externo do auditório se transformou no palco Heineken, com seu paredão superior ao palco servindo de um imenso telão, um espetáculo à parte. O palco Heineken era grande, possuía dois telões de alta definição nas laterais além é claro da projeção no paredão. 

A experiência no lugar não é inédita pra mim. 15 anos antes, esse mesmo palco e este mesmo gramado foi feita a exibição do filme restaurado "Metropolis" (1927) de Fritz Lang com orquestra ao vivo no palco e o filme projetado em cima da parede telão, um espetáculo aberto e sensacional ...e eu estava lá...Fiz o relato deste acontecimento aqui.

Depois da sequência, bebida, comida e banheiro, era hora de me acomodar praticamente a uns 20 metros do palco  no lado esquerdo e esperar. Um publico geralmente na faixa dos 40/50 anos, mas também jovens acompanhando pais (que belo gosto musical para compartilhar com os filhos) e o público seleto.



PRETENDERS

Apesar de shows sempre atrasarem, as 19:04, as luzes se apagam e subitamente os integrantes da banda Pretenders entram e lá na frente aquela senhora toda alegre de camiseta preta, jeans, bota, uma corrente prateada presa com um cadeado (espirito punk na veia) e jeitão roqueira, com seu cabelão moreno com sua guitarra, com rugas no rosto...mas muita disposição...Chrissie Hynde chegou...e com tudo !!!


Ela é a fundadora e a única remanescente da formação original, já que o baterista Martin Chambers aposentou a pouco tempo sendo substituído pelo competente Rob Walbourne, completam o time o excelente James Walbourn na guitarra (seu parceiro desde 2008) e Nick Wilkinson no baixo. No show atual não existe tecladista ou qualquer artifício de música eletrônica, só formação básica a "la Beatles". Um risco para plateias mais novas ? Não, se tratando da banda de Chrissie Hynde, que conserva sua voz de forma magnífica, com timbre e vocalização quase intactos. É como se a música dos álbuns estivessem sendo tocados ao vivo   sem alterações. Junto do guitarrista Walbourn, com seu ritmo rápido e riffs violentos, Chrissie encontra o apoio certo para em uma hora e pouco de show entregar os principais hits da carreira (principalmente todos aqueles que eu queria) : "Kids", "Back on the Chain Gang", "Don’t Get Me Wrong",  "Middle of the Road" e "Stand by you"), assim como outras faixas matadores do velho e bom rock'n'roll da banda, que encanta gerações a décadas...


No meio do publico nostálgico teve vários casais maduros e namorados juntinhos curtindo aquelas faixas que fizeram parte da história de suas vidas. Punk, rock, new wave, baladas, creio que foram umas 18 faixas, com o público muitas vezes fazendo coro, batendo palmas, agitado e pulando. Sim, também tinham muita gente que estavam ali só por estar, conversando, não ligando...mas isto acontece.


Com sua ótima interação de Chrissie Hynde e com publico dominado, arriscou algumas palavras em português, se dizendo 'paulistana, ou quase' (ela morou em São Paulo por volta de 2003), houve momento que ela jogou a gaita que ela tocou no fim de "Middle of the Road", para galera. Outro momento, guitarrista erra a entrada antes de "Time the Avenger", na qual ele fala que 'c@gou nesta', prontamente perdoada pela patroa Hynde. Ele mesmo deu show a parte com seus riffs enérgicos.


Ao final do show, ela agradece a todos pela noite e promete voltar em breve, saem do palco mas as batidas do show ficam ali ainda na cabeça por um tempo e é hora então de parte do público também ir embora e o lugar começa a se esvazia por algum tempo. Hora de sentar no chão um pouco para absorver e extravasar a emoção ali, pois o melhor da noite...ainda estava para chegar! Pretenders foi apenas o aperitivo..alias finalmente uma injustiça histórica minha sendo paga por finalmente ver os veteranos em ação... Obrigado Chrissie, obrigado Pretenders ! Mas a noite não acaba ali...


SETLIST




AIR - Moon Safari Tour



Em meia hora eu acho, o palco do Pretenders já estava todo desmontado e a equipe do AIR já estava agindo rápido. Sem poder levar o "palco-caixa" original da turnê da banda, optaram pela estrutura do Palco Heineken, montando sua bateria e conjunto de sintetizadores, além de ajustes na aparelhagem sonora e visual que estava escondido por trás. O interessante que esta estrutura toda é minimalista mas ao mesmo tempo grandiosa, já que o auditório externo da uma sensação de espaçamento maior e uma interação direta com o Parque do Ibirapuera, o público no gramado, as árvores ao fundo e o skyline da cidade com o Obelisco  ao lado e o céu cortado por luzes dos holofotes...uma união da arte, com a arquitetura, a natureza e o espaço...


Consegui chegar um pouco mais perto  do palco, assim que a galera do show anterior começou a sair. Devo ter ficado a 15 metros, e logo que levantei, uma turma de jovens de todas as idades começou a chegar. Fontes ligadas ao festival informaram que 13 mil pessoas estavam lá naquele momento ou mais um pouco. Mas não foi muvuca. Deu pra ver bem o palco com os músicos, que antes da turma entrar...mostrava um par de olhos femininos piscando (arte do single Kelly watch the Stars).


As 21:00, o AIR começa o show...com destaque para o telão de LED ao fundo passando imagens, jogo de luzes disparando flashs e cores e os primeiros acordes já começaram a tocar... O duo Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel, junto com seu baterista de apoio, Louis Delorme, adentram o palco, quase de forma tímida, todos vestidos de roupas brancas, parecendo que iram ao réveillon e cada um seguindo para seu lugar... Logo Godin assumiu sua baia a direita do palco, com alguns synths e guitarra, Dunckel foi para o lado esquerdo com seu conjunto de sintetizadores (alguns vintage), com Delorme assumindo no centro com sua bateria e percussão. Senhoras e senhores, o AIR está no ar !!!


Ao contrário do Pretenders, na qual os dois telões laterais e o telão da parede transmitiam ao vivo o que estava acontecendo no palco, para o AIR, isto foi feito apenas para os dois telões laterais, o principal ficou sendo como uma extensão da tela LED da banda que ficava ao fundo e que em muitos casos replicava os gráficos transmitidos. Isto fazia uma interação multimídia com o público aliado ao jogo de luzes do palco, uma verdadeira viagem espacial lúdica e dimensional...


Não é surpresa ou spoiler, já que a turnê é dedicada ao álbum Moon Safari, então eles tocaram exatamente a sequência do disco, abrindo com "La Femme d'argent", seguida pelo maior sucesso da banda logo de cara..."Sexy Boy" com direito ao macaquinho do clip, 'viajando' algumas vezes no telão de LED atrás da banda. Não precisava nem dizer que a gente cantava com força o refrão...com os pulmões cheios... As músicas seguem e a quarta é "Kelly Watch the Stars" outro single de sucesso cantada pelo público com direito a gráficos imitando um telejogo dos anos 70...finalmente a viagem chega ao fim na 10° canção, "Le Voyage de Pénélope", quando os membros se retiram do palco...mas as luzes não se apagam...Importante dizer que até aqui, as músicas do álbum "Moon Safari" foram tocadas na integra e na ordem, mas com algumas poucas variações, alterações ou improvisações, sem mexer com a estrutura original delas, algo que o AIR não fazia anteriormente nos shows desde que começaram lá no final do milênio passado...


A interação da banda com público foi pouca, mas apenas Godin, falava para plateia com alguns 'obrigados' e 'merci beaucoup!'. O fato é que ele é casado com a brasileira Ira Travisan, que foi baixista da banda Cansei de Ser Sexy(CCS) dos anos 2000. Ira estava escondida atrás do palco nos bastidores.


O prato principal já havia sido servido, agora era hora da sobremesa, pois ainda tinham meia hora de show para o público extasiado por mais...o lance era saber se muito mais coisas iriam ser tocadas, já que festival tem limite de tempo...O retorno da banda foi rápido. Seguiu-se uma sequência matadora , com 5 faixas apenas começando com "Vênus" abrindo, seguida da maravilhosa "Cherry Blossom Girl", que o público já pedido em coro no intervalo e com o grand finale a kraftwerkiana "Don't Be Light", com direito ao refrão exibido em letras grandes no telão... AIR dá seu adeus, um abraço dos membros e um agradecimento conjunto...e a banda se despede do palco...mas por vários minutos as pessoas ainda ficam ali, paradas no gramado, com imagens do olhos femininos de "Kelly Watch the Stars" novamente exibidas no telão até as luzes serem completamente apagadas e as pessoas saírem do transe psíquico onde estavam neste sensacional show.


Posso dizer que  as músicas ao vivo do AIR, com todos aqueles efeitos multimídia do show, são uma passagem direta para um outro universo sensorial e a escolha do repertório final com as 5 faixas restantes também nos levava mais além daquele universo e quando acabou, ficava aquela sensação estranha de perda sensorial momentânea igual a um transe. Tínhamos a sensação de Tempus fugit (como se o tempo parasse). As imagens gráficas, variavam bastante, que poderiam ir desde cores abstratas, a chuvas de estrelas, viagens galácticas, gráficos antigos de games e até fogos de artifício.  Tinha momentos que parecia que estávamos dentro do filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço" em uma viagem dentro do monolito negro... Os músicos, que foram também alunos de arquitetura, são fãs declarados do nosso herói brasileiro, Oscar Niemeyer (1907-2012) e não poderia ter tocado em lugar melhor, já que tanto o auditório do Ibirapuera (que tem o nome oficial do arquiteto), quanto o parque, vieram das mãos do gênio da arquitetura nacional e mundial.



Depois da apresentação e do meu transe, saí do gramado ainda com muita gente parada ali e fui embora com o dever cumprido...era mais uma noite pra ser lembrada e guardada pra sempre.


SETLIST














Com Pretenders e AIR, completei 11 shows internacionais no meu currículo !!! E tudo começou alias, com um dos precursores da música eletrônica, Kraftwerk lá por volta de 1998.


Pontos positivos do C6 FEST:

Entrada e saída facilitada sem muvuca e com seguranças.

Muito bem sinalizado.

Segurança.

Banheiros, bem organizados, grandes e não as porcarias químicas que eles costumam colocar em eventos públicos. Sem muita gente pra sair e entrar com acesso fácil também a lavatórios.  E obviamente limpos.

Bebida era fácil e rápido, vc pegava um copo, usando a pulseira pagava e pegava a bebida. Rápido e fácil

Área de food trunck boa, com várias opções, então peguei uns tacos pois não queria me demorar muito.

Sem área VIP na frente. Quer ver o artista de perto ? chega cedo !!!


Pontos negativos do C6 FEST:

Ao pegar a comida, notei algo chato...não tinha lugar pra sentar na área de alimentação... mas tinha os bancos dos parques que são poucos, então ficava aquela disputa pra sentar...

Notei que os copos do patrocinador de cerveja, não eram copos temáticos do festival. Fiquei frustrado com relação a isto, pois pra mim, eles são como troféu do evento pois deveria ter o nome do festival e os artistas escritos, que nem foi do POPLOAD 2018 quando vi o inesquecível Blondie(veja como foi aqui). Era apenas um copo (menor que o do Popload mas curiosamente, o mesmo patrocinador de cerveja). Só tinha o logo da empresa de chopps e mais nada. Colecionador gosta de colecionar estas exclusividades.

Mapas e informações poderiam ser distribuídas para o público na entrada, ficou apenas aquela divulgação via online nas redes sociais e site oficial, mas seria uma boa ter algo em mãos, alguma coisa que poderia ser guardado com as informações dos artistas etc.

Excessos de youtubers/influencier gente ligado a cultura e música...como convidados...tipo vc paga um ingresso caro e este povo que as vezes nem vê o show direito, ganha de graça...

Preço nada agradável, né ?

 

obs: A primeira parte deste artigo pode ser lido aqui...





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