VINYL (HBO) - 2016 - Produção de de Martin
Scorsese e Mick Jagger com Terence Winter (Boardwalk Empire, A Família
Soprano).
Situada na Nova York no início dos anos 70, que passava
na sua pior recessão econômica de sua história. Uma época que nada funcionava.
O metrô estava caindo aos pedaços. As taxas de criminalidade estavam
altíssimas. Mas, ao mesmo tempo, culturalmente falando, aquela época foi um
auge. O começo dos anos 70 e, em particular, o ano de 1973, foi um momento de
grandes mudanças na indústria musical e tudo começou na cidade de Nova York,
praticamente o centro do universo ocidental moderno e capitalista. O lugar onde
o punk, as discotecas e o hip-hop começava a mudar o panorama musical em uma
megalópole efervescente mas ao mesmo tempo decadente, a série explora o mundo da música e sua industria corrupta,
movida a sexo e drogas, através dos olhos do executivo Richie Finestra (Bobby
Cannavale). Viciado em cocaína e álcool, ele comanda uma grande gravadora, a
American Century Records, quase a beira da falência, enquanto tenta ressuscitar
sua etiqueta e encontrar o próximo novo som, que irá revolucionar o mundo da
música. Ray Romano (Everybody Loves Raymond) faz Zak Yankovich, braço direito
de Richie e chefe do departamento de promoções da gravadora. Olivia Wilde
interpreta Devon, ex-modelo, atriz e esposa de Richie. Juno Temple é Jamie
Vine, ambiciosa assistente de Richie.
Andrey Dice Clay (Entourage), James Jagger (filho de Mick Jagger), Joe
Caniano (Boardwalk Empire), Robert Funaro (A Família Soprano) e PJ Byrne
(Intelligence) também estão no elenco.
Misturando realidade com ficção, a série aborda a
industria fonográfica nos conturbados anos 70(a primeira temporada se passa no
período 1973-74) , de forma nua e crua,
sem o glamour que estamos acostumados a conhecer das celebridades, mas seu
outro lado da moeda mais sombrio, perverso, tudo regado a muito dinheiro e
cocaína ...Saiba como funcionava o esquema de jabá e o catapultamento irregular
de artistas para o topo da parada, sem que muitos nem tivessem o lado artístico
realmente interessante e de gosto duvidoso para entrar nas paradas de sucesso
(vide hoje com Anitta e Pablo Vittar), tudo isto na visão dos produtores da série
envolvidos, com um DNA de cada um. Scorsese, também responsável pelo episódio
piloto, de quase duas horas, mostrando a NY dos anos 70, com imigrantes
italianos e latinos, guetos negros , gangues, mafia, corrupção policial, sexo,
drogas e é claro, as velhas discussões sobre família, honra e amizade. Já
Jagger, traz seu filho James Jagger com a modelo Jerry Hall, um jovem que monta
uma banda punk tentando sucesso na gravadora de Richie, ao mesmo tempo que
tenta ser domado pela industria para que faça algo descente e suas loucuras com
drogas e sexo. Outro destaque é a bela Juno Temple, na vida real, filha do
diretor Julien Temple, conhecido por ser ligado aos filmes de rock, ela é a
garota que quer subir na vida a qualquer custo, nem que para isto se entrega de
corpo e alma e muitas drogas para
promover uma banda de rua, dentro da gravadora. Ainda temos o Jackie Quaid, filho do Denis Quaid com a Meg
Ryan, um rapaz que sente uma certa inveja de seus colegas e que para não ser
demitido, aceita passar a ser o 'cara do café' e das correspondências.
Richie Finestra (Bobby Cannavale) |
Os personagens fictícios vão cruzando o caminho de
personalidades reais ao longo da série, como Led Zeppelin, Andy Warhol, Alice
Cooper, Lou Reed, John Lennon, Patti Smith, Bruce Springsteen, New York
Dolls,Ramones e até Elvis Presley, com
destaque para o sexto episódio, dedicado a David Bowie, alias, uma linda
homenagem de despedida ao Starman !
Alguns poderão reclamar do contexto sexo e drogas,
mostrado de forma bastante pesada, como que glamorizando o vício, mas mostra
também o rastro destrutivo deixado por
ela, uma combinação de muita violência e
descontrole, na qual o personagem principal, o
executivo Richie Finestra é o mais exposto a tudo, perdendo sua
credibilidade, suas amizades e principalmente sua família. Sua esposa, Devon (a
estonteante Olivia Wilde), foi uma ex-modelo da Factory de Andy Warhol, e
apesar de também se sentir culpada pela destruição de seu casamento com
Finestra, também fica perdida sem seu marido. Uma estrutura familiar totalmente
destruída. Finestra, também tem sua
amizade comprometida com seu melhor amigo e sócio na gravadora, o judeu Ray
Romano, uma relação de amor e ódio, na qual milhões de dólares são cobiçados e
perdidos por total irresponsabilidade dos personagens. Finestra ainda tem outro
problema, durante uma festa regado a muita droga, acaba assassinando um antigo
colega, o radialista Buck Rogers(responsável por aceitar seus jabás nas cadeias
de rádio) e isto o colocada direto em
choque com a polícia corrupta de NY e aumenta ainda mais seu envolvimento com a
máfia local na qual corre em busca de proteção, a ponto de novamente colocar
sua vida em risco total.
Um outro destaque aqui é por conta da presença do ator
afro Ato Essandoh, o blueseiro Robert Grimes. Há uma senhora história
contando como o blues, o gospel, o
rhythm'n'blues e a soul music foram cruciais para que o negócio fonográfico se
tornasse multimilionário ao mesmo tempo que ainda segregava racialmente músicos
afros na base da intimidação e da violência física. E ao colocá-lo no gueto
nova-iorquino em que o funk borbulhava rumo à ebulição do hip hop, a série
traça uma genealogia musical paralela a dos clássicos do rock que eram
igualmente interessantes – e muito mais rica musicalmente. E você tem neste
caldeirão de misturas o nascimento de novos ritmos como o surgimento da Disco
Music, de dentro dos guetos, que a levou mais tarde para o mainstream das
grandes casas noturnas mundiais. É sempre, assim, quando o preto junta com o
branco, devemos esperar uma nova revolução de ritmos , mesmo que depois apenas
só um lado se considere o verdadeiro dono dele. Foi assim com o rock, com a
Disco, com o reggae...
O nascimento do punk, também é outro destaque nesta
série, ao mostrar a banda fictícia The Nasty Bits, cujo vocalista e líder Kip
Stevens (James Jagger) é um viciado em heroína que precisa estar sóbrio para entregar
um material sólido para a gravadora de Richie Finestra, para que sejam aceitos
no mercado fonográfico. O prêmio maior para sua banda, será abrir para o The
New York Dolls, mas para chegar lá, o caminho será muito tumultuado e doloroso
pra ele e para as pessoas que o cercam. Ele vive um relacionamento conturbado com a personagem Jamie (Juno Temple), quase um casal ao estilo Sid e Nancy...
Kip Stevens (James Jagger) e Jamie(Juno Temple) |
São 10 capítulos sensacionais, em um cada um deles, entre
cenas, dentro do cenário ficticio da serie são inseridas pequenas vinhetas musicais,
de artistas famosos ao longo das décadas como Elvis, Ray Charles, Little
Richard, Jerry Lee Lewis, Bo Diddley, entre outros. Sem contar a própria trilha
sonora, um dos pontos fortes desta série.
Ainda temos um aperitivo extra da série...algumas
mulheres lindas...e nuas...sim Olivia Wilde e Juno Temple, como vieram ao
mundo...
A série é machista, racista e misógina ???? Sim, alias,
não é nada chocante...estamos falando dos anos 70, baby...a verdade nua e crua
. A palavra "fuck" é repetida umas mil vezes nesta série, que acaba
sendo lugar comum do contexto histórico.....É contexto histórico, gente !!!
Acorda !!! Ninguém quer mostrar um mundo falso ali.
Sobre os aspectos técnicos da série, pode se dizer que
são sensacionais, a recriação dos anos 70, com seus figurinos exagerados um dos
pontos altos de Vinyl . A HBO torrou uma
grana preta nela e isto também foi seu fim, pois após a emissora anunciar uma
segunda temporada, quando o episódio piloto de Scorsese havia sido lançado,
voltou atrás após o termino da temporada, quando os números da audiência se
mostraram baixos e cancelou a série, mesmo que a pré-produção para segunda
temporada já havia começado, sendo que neste meio tempo, o showrunner, Terence
Winter abandonou a série por diferenças criativas e novos produtores haviam
sido contratados. Para nossa infelicidade, nunca saberemos mais o final desta
estória. Ficaremos com aquele gostinho
de quero mais...a série ainda tinha um potência enorme a ser desenvolvido, podemos
imaginar nas temporadas seguintes, o fortalecimento do punk, pois no final da
temporada, Richie encontra Hilly Kristal, em um bar, e ele apresenta a idéia do
que seria posteriormente o CBGB's, a casa noturna na qual bandas como Ramones,
Talking Heads e Blondie começariam...também veriamos a Disco e o RAP saindo dos
guetos e indo para o mainstream, o nascimento da cultura Hip Hop , o glamour das
grandes discotecas como o Studio 54, entre outras coisas marcantes daquela
década. Infelizmente, tudo jogado no
lixo pela HBO, que já gastava rios de dinheiro com outras séries como "Game of Thrones" e "Westword". Curiosamente, ela
passou a apostar em outra série sobre os anos 70, desta vez sobre o universo da
pornografia em NY, " The Deuce ", de James Franco. Mas ao meu ver,
sem querer desmerecer o Franco, trocar Scorsese por ele...é um tiro no pé !!!
Vai deixar saudades.
Nota 4 1/2 de 5
!!!
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