terça-feira, 5 de novembro de 2019

Vinyl - (HBO) - 2016


VINYL (HBO) - 2016 - Produção de de Martin Scorsese e Mick Jagger com Terence Winter (Boardwalk Empire, A Família Soprano).



Situada na Nova York no início dos anos 70, que passava na sua pior recessão econômica de sua história. Uma época que nada funcionava. O metrô estava caindo aos pedaços. As taxas de criminalidade estavam altíssimas. Mas, ao mesmo tempo, culturalmente falando, aquela época foi um auge. O começo dos anos 70 e, em particular, o ano de 1973, foi um momento de grandes mudanças na indústria musical e tudo começou na cidade de Nova York, praticamente o centro do universo ocidental moderno e capitalista. O lugar onde o punk, as discotecas e o hip-hop começava a mudar o panorama musical em uma megalópole efervescente mas ao mesmo tempo decadente, a série explora  o mundo da música e sua industria corrupta, movida a sexo e drogas, através dos olhos do executivo Richie Finestra (Bobby Cannavale). Viciado em cocaína e álcool, ele comanda uma grande gravadora, a American Century Records, quase a beira da falência, enquanto tenta ressuscitar sua etiqueta e encontrar o próximo novo som, que irá revolucionar o mundo da música. Ray Romano (Everybody Loves Raymond) faz Zak Yankovich, braço direito de Richie e chefe do departamento de promoções da gravadora. Olivia Wilde interpreta Devon, ex-modelo, atriz e esposa de Richie. Juno Temple é Jamie Vine, ambiciosa assistente de Richie.  Andrey Dice Clay (Entourage), James Jagger (filho de Mick Jagger), Joe Caniano (Boardwalk Empire), Robert Funaro (A Família Soprano) e PJ Byrne (Intelligence) também estão no elenco.



Misturando realidade com ficção, a série aborda a industria fonográfica nos conturbados anos 70(a primeira temporada se passa no período 1973-74)  , de forma nua e crua, sem o glamour que estamos acostumados a conhecer das celebridades, mas seu outro lado da moeda mais sombrio, perverso, tudo regado a muito dinheiro e cocaína ...Saiba como funcionava o esquema de jabá e o catapultamento irregular de artistas para o topo da parada, sem que muitos nem tivessem o lado artístico realmente interessante e de gosto duvidoso para entrar nas paradas de sucesso (vide hoje com Anitta e Pablo Vittar),  tudo isto na visão dos produtores da série envolvidos, com um DNA de cada um. Scorsese, também responsável pelo episódio piloto, de quase duas horas, mostrando a NY dos anos 70, com imigrantes italianos e latinos, guetos negros , gangues, mafia, corrupção policial, sexo, drogas e é claro, as velhas discussões sobre família, honra e amizade. Já Jagger, traz seu filho James Jagger com a modelo Jerry Hall, um jovem que monta uma banda punk tentando sucesso na gravadora de Richie, ao mesmo tempo que tenta ser domado pela industria para que faça algo descente e suas loucuras com drogas e sexo. Outro destaque é a bela Juno Temple, na vida real, filha do diretor Julien Temple, conhecido por ser ligado aos filmes de rock, ela é a garota que quer subir na vida a qualquer custo, nem que para isto se entrega de corpo e alma  e muitas drogas para promover uma banda de rua, dentro da gravadora. Ainda temos o  Jackie Quaid, filho do Denis Quaid com a Meg Ryan, um rapaz que sente uma certa inveja de seus colegas e que para não ser demitido, aceita passar a ser o 'cara do café' e das correspondências.

 Richie Finestra (Bobby Cannavale)


Os personagens fictícios vão cruzando o caminho de personalidades reais ao longo da série, como Led Zeppelin, Andy Warhol, Alice Cooper, Lou Reed, John Lennon, Patti Smith, Bruce Springsteen, New York Dolls,Ramones  e até Elvis Presley, com destaque para o sexto episódio, dedicado a David Bowie, alias, uma linda homenagem de despedida ao Starman !

Alguns poderão reclamar do contexto sexo e drogas, mostrado de forma bastante pesada, como que glamorizando o vício, mas mostra também o rastro destrutivo deixado  por ela, uma combinação de  muita violência e descontrole, na qual o personagem principal, o  executivo Richie Finestra é o mais exposto a tudo, perdendo sua credibilidade, suas amizades e principalmente sua família. Sua esposa, Devon (a estonteante Olivia Wilde), foi uma ex-modelo da Factory de Andy Warhol, e apesar de também se sentir culpada pela destruição de seu casamento com Finestra, também fica perdida sem seu marido. Uma estrutura familiar totalmente destruída.  Finestra, também tem sua amizade comprometida com seu melhor amigo e sócio na gravadora, o judeu Ray Romano, uma relação de amor e ódio, na qual milhões de dólares são cobiçados e perdidos por total irresponsabilidade dos personagens. Finestra ainda tem outro problema, durante uma festa regado a muita droga, acaba assassinando um antigo colega, o radialista Buck Rogers(responsável por aceitar seus jabás nas cadeias de rádio)  e isto o colocada direto em choque com a polícia corrupta de NY e aumenta ainda mais seu envolvimento com a máfia local na qual corre em busca de proteção, a ponto de novamente colocar sua vida em risco total.

Um outro destaque aqui é por conta da presença do ator afro Ato Essandoh, o blueseiro Robert Grimes. Há uma senhora história contando  como o blues, o gospel, o rhythm'n'blues e a soul music foram cruciais para que o negócio fonográfico se tornasse multimilionário ao mesmo tempo que ainda segregava racialmente músicos afros na base da intimidação e da violência física. E ao colocá-lo no gueto nova-iorquino em que o funk borbulhava rumo à ebulição do hip hop, a série traça uma genealogia musical paralela a dos clássicos do rock que eram igualmente interessantes – e muito mais rica musicalmente. E você tem neste caldeirão de misturas o nascimento de novos ritmos como o surgimento da Disco Music, de dentro dos guetos, que a levou mais tarde para o mainstream das grandes casas noturnas mundiais. É sempre, assim, quando o preto junta com o branco, devemos esperar uma nova revolução de ritmos , mesmo que depois apenas só um lado se considere o verdadeiro dono dele. Foi assim com o rock, com a Disco, com o reggae...

O nascimento do punk, também é outro destaque nesta série, ao mostrar a banda fictícia The Nasty Bits, cujo vocalista e líder Kip Stevens (James Jagger) é um viciado em heroína que precisa estar sóbrio para entregar um material sólido para a gravadora de Richie Finestra, para que sejam aceitos no mercado fonográfico. O prêmio maior para sua banda, será abrir para o The New York Dolls, mas para chegar lá, o caminho será muito tumultuado e doloroso pra ele e para as pessoas que o cercam. Ele vive um relacionamento conturbado com a personagem Jamie (Juno Temple), quase um casal ao estilo Sid e Nancy...

Kip Stevens (James Jagger) e Jamie(Juno Temple) 


São 10 capítulos sensacionais, em um cada um deles, entre cenas, dentro do cenário ficticio da serie são inseridas pequenas vinhetas  musicais,  de artistas famosos ao longo das décadas como Elvis, Ray Charles, Little Richard, Jerry Lee Lewis, Bo Diddley, entre outros. Sem contar a própria trilha sonora, um dos pontos fortes desta série.

Ainda temos um aperitivo extra da série...algumas mulheres lindas...e nuas...sim Olivia Wilde e Juno Temple, como vieram ao mundo...

A série é machista, racista e misógina ???? Sim, alias, não é nada chocante...estamos falando dos anos 70, baby...a verdade nua e crua . A palavra "fuck" é repetida umas mil vezes nesta série, que acaba sendo lugar comum do contexto histórico.....É contexto histórico, gente !!! Acorda !!! Ninguém quer mostrar um mundo falso ali.

Sobre os aspectos técnicos da série, pode se dizer que são sensacionais, a recriação dos anos 70, com seus figurinos exagerados um dos pontos altos de Vinyl . A  HBO torrou uma grana preta nela e isto também foi seu fim, pois após a emissora anunciar uma segunda temporada, quando o episódio piloto de Scorsese havia sido lançado, voltou atrás após o termino da temporada, quando os números da audiência se mostraram baixos e cancelou a série, mesmo que a pré-produção para segunda temporada já havia começado, sendo que neste meio tempo, o showrunner, Terence Winter abandonou a série por diferenças criativas e novos produtores haviam sido contratados. Para nossa infelicidade, nunca saberemos mais o final desta estória. Ficaremos com  aquele gostinho de quero mais...a série ainda tinha um potência enorme a ser desenvolvido, podemos imaginar nas temporadas seguintes, o fortalecimento do punk, pois no final da temporada, Richie encontra Hilly Kristal, em um bar, e ele apresenta a idéia do que seria posteriormente o CBGB's, a casa noturna na qual bandas como Ramones, Talking Heads e Blondie começariam...também veriamos a Disco e o RAP saindo dos guetos e indo para o mainstream, o nascimento da cultura Hip Hop , o glamour das grandes discotecas como o Studio 54, entre outras coisas marcantes daquela década. Infelizmente, tudo  jogado no lixo pela HBO, que já gastava rios de dinheiro  com outras séries como  "Game of Thrones"  e "Westword". Curiosamente, ela passou a apostar em outra série sobre os anos 70, desta vez sobre o universo da pornografia em NY, " The Deuce ", de James Franco. Mas ao meu ver, sem querer desmerecer o Franco, trocar Scorsese por ele...é um tiro no pé !!!



Vai deixar saudades.

Nota 4 1/2  de 5 !!!


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