quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Nicholas Meyer retorna seus romances de Sherlock Holmes


Conhecido pelos fãs de Star Trek, "trekkers" como o melhor diretor/roteirista da franquia,  o norte-americano Nicholas Meyer (1945), também foi responsável por escrever para outro ícone cultural, o famoso detetive Sherlock Holmes, criado em 1887, por Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930).  O personagem de Doyle, captou a imaginação do público por quase dois séculos e ainda é uma grande referência na cultura pop mundial em diversos outros meios culturais como  livros pastiches (não escritos por Doyle), peças de teatro, programas de rádio, cinema, quadrinhos, jogos de tabuleiros, games e séries de TV. Enfim, o famoso detetive nunca perde seu encanto com público. Recentemente filmes de cinema com  o ator Robert Downey Jr, ou séries de TV, com o ator Benedict Cumberbatch, ainda continuam a despertar interesse e a aumentar a popularidade por várias gerações de  fãs .


 Nicholas Meyer, um grande fã do detetive, e muitos anos antes de se aventura pelo espaço com a nave Enterprise, começou a escrever sua própria estória pastiche de Sherlock. O que levou Meyer a escrever foi uma greve de roteiristas em 1973, na qual paralisou a indústria cinematográfica naquele ano, e para ocupar seu tempo, já que não poderia escrever para TV ou cinema, ele se dedicou totalmente a Sherlock Holmes. Meyer desenvolveu um interesse por Sherlock Holmes quando adolescente e ao longo dos anos pensou em escrever uma história onde Sherlock Holmes encontra Sigmund Freud, tendo aprendido sobre o fundador da psicanálise com seu pai psiquiatra. A greve foi o ímpeto para desenvolver as várias ideias que ele teve ao longo dos anos em um livro. Meyer escreveu o livro à mão e depois datilografou o texto sentindo que isso o colocaria melhor na mentalidade de "editar" as palavras de Watson. Ele acrescentou erros e erros de continuidade deliberados para melhor fornecer a ilusão de ser uma extensão das obras originais.

 

Lançado em 1974,  o livro " The Seven-Per-Cent Solution: Being a Reprint from the Reminiscences of John H. Watson, M.D" pela editora E. P. Dutton, na qual relata sobre um manuscrito perdido do Dr.Watson, que revela a busca de Sherlock Holmes pela cura de seu vício em cocaína, ao se consultar em Viena  com o famoso psiquiatra Sigmund Freud. O livro acabou sendo um grande sucesso e se tornando um dos best-sellers instantâneo, sendo que ficou na lista dos mais vendidos do Jornal The New York Times por  40 semanas entre 1974 a 1975 e o nono melhor livro do ano da lista da revista Publishers Weekly. O livro foi lançado no Brasil com o título "Uma Solução 7 por Cento", atualmente fora de catálogo..

 

O sucesso instantâneo levou Meyer a desenvolver um roteiro cinematográfico e vende-lo a Universal Studios, que lançou o filme " The Seven-Per-Cent Solution" (Visões de Sherlock Holmes) em 1976 nos cinemas. Com direção de Herbert Ross (A garota do adeus) e um grande elenco de estrelas formado por Nicol Williamson (Excalibur) como Sherlock , Robert Duval (O Poderoso Chefão) como Dr.Watson, Alan Arkin(Argo) como Sigmund Freud, Vanessa Redgrave(Camelot) como Lola Deveraux e Sir Laurence Olivier(Hamlet) como Professor Moriarty. O filme fez boas críticas e bilheteria moderada e foi indicado ao Oscar em 1977 em duas categorias, Melhor Roteiro Adaptado para o próprio Meyer e Melhor Figurino, não vencendo em nenhuma.  O filme também deu oportunidade a Meyer ser aceito dentro de Hollywood, na qual posteriormente desenvolveu vários filmes incluindo os da franquia Star Trek.

 


Visões de Sherlock Holmes (1976)

 


Mas Meyer não se limitou apenas a este romance, o sucesso levou a outro romance pastiche de Sherlock, " The West End Horror: A Posthumous Memoir of John H. Watson, M.D." lançado em 1976.  No livro, o próprio autor conta sobre o sucesso do livro anterior e fala que recebeu várias ideias para novas histórias de Sherlock. Uma que ele achou bastante interessante, seria de uma mulher que entregou para ele uns manuscritos que pertenciam a uma descente direta de Sherlock Holmes sobre um caso que envolve uma série de assassinatos na região de West End em Londres. O livro ficou 11 semanas nos mais vendidos do The New York Times. Foi lançado no Brasil com o título:  "O Drama do Savoy", já fora de catálogo.  Desta vez não houve mais filmes adaptados do roteiro. Visto que Meyer passou a ficar bastante ocupado durante praticamente todo anos 80 e começo dos anos 90, escrevendo e dirigindo para Hollywood.

 

 

 


Mas Meyer não havia desistido fácil de Sherlock. Em 1993, após 17 anos, ele voltou ao mundo do famoso detetive particular, ao lançar o livro "The Canary Trainer: From the Memoirs of John H. Watson ". Neste livro, mais um manuscrito perdido do Dr. Watson,  que se passa no começo do século XX, Sherlock e Watson, estão envolvidos em eventos misteriosos envolvendo o Fantasma da Ópera. No prólogo, Meyer refere-se aos "papéis de Baring-Gould" como tendo causado uma retomada do interesse na vida de Holmes, e Meyer inclui várias alusões às obras de William S. Baring-Gould. Este terceiro livro, não fez sucesso como os anteriores, recebendo críticas mistas. Nem sequer chegou a ser publicado no Brasil.

 

 

  

  

 


Novamente, após décadas voltadas a trabalhos no cinema e TV ,mas sem publicar romances do famoso detetive,  Nicholas Meyer resolveu retornar a velha Baker Street após 26 anos de seu último livro. Na verdade, ele retornou com tudo, publicando 2 livros nos últimos 4 anos. Em 2019, ele lançou "The Adventure of the Peculiar Protocols: Adapted from the Journals of John H. Watson, M.D.", baseado em outro manuscrito perdido de Watson com uma estória que gira em torno do famoso Protocolo do Priorado de Sião. O romance conta a estória de Holmes e Watson investigando um agente do serviço secreto britânico que foi encontrado morto no rio Tamisa, levando manuscritos para a Inglaterra. Os dois viajam de Paris para a Rússia na tentativa de desmistificar a origem do documento. Teve críticas melhores que o livro anterior. E chegou a entrar na lista dos mais vendidos do jornal The Los Angeles Times, em novembro de 2019. O motivo que levou Meyer a publicar um novo romance do detetive após vários anos ? "Como você enfrenta Donald Trump, eu pensei, 'Bem, eu conto histórias, então talvez eu pudesse escrever um romance secreto sobre isso," Meyer disse ao The Hollywood Reporter. "O romance foi uma síntese dos meus interesses na falsificação, sendo eu próprio um certo falsificador, como pude perceber, e o meu alarme com a proliferação de falsificações  e fake News de políticos que agora acusam os outros do que estão a fazer e gritam 'finja isso' e 'finja aquilo', então somos como um pelotão de fuzilamento idiota, todo mundo atirando em círculos. Pensei em tentar resolver o problema ", acrescentou. Meyer considerou a possibilidade de adaptar este livro para um filme, como fez com seu primeiro romance de Holmes:  "Se alguém me pagar, eu faço, sim", disse Meyer ao THR.

  


O quinto livro sobre o detetive, foi lançado em 2021, "The Return of the Pharaoh: From the Reminiscences of John H. Watson, M.D.".  Neste livro, que se passa no começo do século XX, o Dr.Watson viaja até o Egito, com sua segunda esposa, Juliet, que está sofrendo de tuberculose e precisa se tratar em um sanatório egípcio. Pouco depois Watson encontra surpreso, Sherlock Holmes, que foi investigar o desaparecimento de um importante nobre inglês naquele país, o que leva os dois a uma trama de assassinatos e espionagem.  Segundo Meyer, a inspiração para este novo romance foi um pedido de seu editor pra fazer uma estória de Holmes no Egito e também do fascínio dele por antigas produções "espada e sandália" que ele assistia quando criança "A Terra dos Faraós" (Howard Hawks), "O Egipcio"(Michael Curtiz), e "Vale dos Reis" (Robert Pirosh)e seu interesse por egiptologia.

  

 Segundo Meyer, "escrevo Holmes pelos motivos que o li: para passar um tempo em sua companhia reconfortante. O mundo, nem é preciso ressaltar, parece um lugar mais traiçoeiro, incerto e caótico do que nunca. Recuar por um tempo para uma era em que as coisas eram presumivelmente mais simples é se entregar a uma espécie de comida reconfortante. Holmes como purê de batata. Tolstoi disse que o propósito da arte é nos ensinar a amar a vida, mas também pode-se argumentar que a arte às vezes pode nos ajudar a resistir ou escapar da vida."

 

Segundo o próprio escritor, ele está escrevendo mais um novo romance sobre Sherlock Holmes, na qual sua atual editora, a Minotaur Books (que publicou o seus dois últimos livros) estaria interessada em publicar. Ficamos no aguardo.

  

Infelizmente seus últimos três livros não foram publicados no Brasil !

Fontes:https://www.nicholas-meyer.com/https://mediamikes.com/2020/12/a-conversation-with-author-and-filmmaker-nicholas-meyer/https://www.hollywoodreporter.com/lifestyle/lifestyle-news/nicholas-meyer-inspiration-behind-latest-sherlock-holmes-tale-1248387/https://lapl.org/collections-resources/blogs/lapl/interview-author-nicholas-meyerhttps://crimereads.com/conan-doyles-children-or-thoughts-on-the-competition/https://www.kirkusreviews.com/book-reviews/nicholas-meyer/the-return-of-the-pharaoh/

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