segunda-feira, 16 de maio de 2022

Discografia comentada - Krarfwerk (1974-2003)

 



Aproveitando o embalo da revisão fonográfica da discografia oficial completa dos Beatles, e tendo a disposição a maioria dos lançamentos comerciais de dois séculos de música pelo Deezer, resolvi fazer o mesmo desafio para uma banda que me faltava uma audição mais completa, o Kraftwerk.

O Krafwerk é uma banda alemã, criada por dois músicos: Ralf Hütter(1946)  e Florian Schneider(1947-2020) em 1970, em Düsseldorf e liderado por ambos até a saída de Schneider, em 2008. A formação mais conhecida, duradoura e bem sucedida foi aquela que se consolidou entre 1975 e 1987 e que incluía os percussionistas Wolfgang Flür e Karl Bartos. A banda ainda está ativa tendo apenas Hütter ainda como original e outros 3 músicos, mas basicamente não gravam mais nada novo desde 2003, passando apenas a remasterizar e tentar canibalizar seus sucessos do passado, além de fazer turnês. 

Sem sobra de dúvida, o Kraftwerk é uma banda revolucionária, eles são considerados com um certo exagero como os "Beatles da música eletrônica". Eles criaram um som que foi base de toda uma revolução musical nos anos e décadas seguintes seja elas a Discoteca, a Eurodisco, o synthpop, technopop, Techno, Drum'base e o EDM em geral. Em cada disco, geralmente discorriam de um determinado tema na qual a música deveria seguir, e geralmente focado na ligação do ser humano com as máquinas. Fazendo o som da banda bastante característico e icônico. Longe de outros artistas eletrônicos contemporâneos como Jean Michel Jarre, Vangelis ou Tangerine Dreams, que trabalhavam com uma eletrônica mais orgânica, o Kraftwerk fazia um som mais industrial, tecnológico e metálico , praticamente inaugurando a música robótica. Foram os pioneiros com o uso de vocoders e sintetizadores. 


Após vários álbuns experimentais, o sucesso da banda veio em 1974 com o álbum Autobahn, e a sua faixa homônima de 22 minutos. A canção foi um hit mundial, demonstrando a grande relação da banda com sintetizadores e outros instrumentos electrónicos. Este álbum foi seguido por uma trilogia de álbuns que influenciou bastante a música popular posterior: Radio-Activity (1975), Trans-Europe Express (1977) e The Man Machine (1978). Seguiu-se posteriormente sua consolidação com Computer World (1981) e  Electric Café (1986). Posteriormente nos anos 90, resolveram refazer e remodelar suas faixas mais famosas na coletânea The Mix (1991) e por fim, já devagar quase parando lançaram um projeto antigo abandonado o Tour de France Soundtracks (2003) e o single da exposição internacional de Hannover em 2000, Expo 2000. Desde então não existe nada de novidades, vem lançando seus materiais antigos em caixas especiais e filmes em 3D, junto com turnês pelo mundo.

Eu tive a chance de conhecer a banda e assistir a um show deles, na primeira vez que vieram ao Brasil em 1998, no Tim Festival em São Paulo, foi meu primeiro show internacional e foi realmente hipnotizador e sensacional. 

Autobahn
(1974) - A banda já tinha 3 álbuns experimentais lançados entre 1970 a 1973, onde misturavam eletrônica com percussão e flauta. Estes álbuns eram basicamente seguiam o movimento krautrock alemão. E tinha muita influencia da música concreta e eletroacústica do alemão Karlheinz Stockhausen (1928 - 2007), da qual os membros fundadores chegaram a serem alunos. Para Autobahn, a banda pegou como tema a relação de uma viagem longa de carro pelas auto rodovias alemãs, as 'autobahns', na qual quase não existe limite de velocidade. A faixa principal que ocupa todo o lado B, possui mais de 22 minutos, de uma longa sequência viajante, com sons de estrada e barulhos de carro em harmonia com a música, o lado B, é bem mais dividido com 4 faixas entre 3 a 4 minutos cada, sendo "Mitternacht", a faixa que tem uma melodia muito suave. Por incrível que pareça, o álbum fez sucesso e chegou a chamar atenção do outro lado do Atlântico. Assim, o Kraftwerk passou a ser não apenas uma sensação no seu país, mas em todo o mundo, mas em um ritmo menor.



Radio-Activity
(1975) - O sucesso parcial de Autobahn, deu ao Kraft a autonomia de criar mais musica eletrônica baseada em música pop. Tendo como base do novo álbum, o tema sobre Radiação e emissão de rádio, Radio-Activity , supera em anos luz de distância seu disco anterior e fazem a banda se tornarem queridinha de vários outros artistas, como por exemplo, David Bowie, que com base no Kraftwerk, passa a investir mais na música eletrônica. Superior ao anterior, temos singles clássicos como "Radioactivity" e  também "Antenna" , que passaram a serem usados em vinhetas de programas de TV a rádio pelo mundo. Se valendo de novos sintetizadores e outros instrumentos de percussão eletrônicos. O grupo acabou sendo uma sensação na França, onde influenciou os músicos daquele país também. A partir deste álbum, os lançamentos passaram a serem bilíngues, com o lançamento em Alemã, nos países de língua alemã, e inglesa, no resto do mundo. Meu segundo álbum preferido.



Trans-Europe Express
(1977) - Com o público europeu capturado, principalmente na França e Alemanha, o Kraft parte para voos maiores. Trans-Europe Express, tem como tema uma viagem de trem pela Europa e a relação do homem com a máquina mecânica. Tentando criar uma atmosfera agradável com batidas cadenciadas, precipitando o início do tecnopop que iria aportar em outras praias, as inglesas, pouco tempo depois. O álbum tem como base o dois temas específicos: a celebração da Europa e as disparidades entre a imagem e a realidade. Em termos musicais, as canções deste trabalho da banda alemã diferem do anterior estilo krautrock que a caracterizava, com ritmos electrónicos mecanizados, minimalismo e vozes manipuladas em alguns temas. Não chega a superar seu álbum anterior, Radio-Activity, mas possui elementos característicos importantes comparados ao trabalho anterior.


The Man-Machine
(1978) - O Kraftwerk, bastante inspirados, lança um dos seus maiores legados, o álbum The Man-Machine. Cada uma das faixas, uma grande descoberta. Apesar do tema do álbum ser o homem-máquina, iniciando o disco com "The Robots", o que se tornaria sua máquina registrada ainda temos faixas maravilhosas como "Spacelab", "The Model" e "Neon lights", parecem fugir do tema, mas que são obras primas da música dance eletrônica. Neste período, o movimento Disco e a New Wave, estava começando seu auge e bebia bastante deste álbum. O tema do álbum tenta emular a robótica com a glamorização da sociedade urbana. Não é atoa de Donna Summers, passando por Devo, Blondie , B-52's e outros, emulam bastante o som da banda. Melhor álbum da banda.


Computer World
(1981) - Lançado em pleno início do synthpop/tecnopop dos anos 80, influenciou bandas e artistas como Gary Numan, New Order, Simple Minds, Duran Duran e mais uma penca de artistas . Batendo a tecla ainda no 'estilo robótico', foi descrito como um trabalho conceitual futurista que prevê a presença da tecnologia computacional na vida cotidiana. Apresentando temas como computadores domésticos e comunicação digital, o álbum tem sido visto tanto como uma celebração da tecnologia da computação quanto como um alerta sobre seu potencial de exercer poder sobre a sociedade com controle social e vigilância digital. Apesar da temática, a produção do álbum foi totalmente analógica e não envolveu nenhuma tecnologia informática. Destaque para os singles "Pocket Calculator", "Computer Love" e "Numbers".



Techno Pop (Electric Café)
(1986) - Este álbum começou a ser produzido a partir de 1982, mas devido a alguns problemas que a banda teve, incluindo um acidente com o Ralf Hütter que o deixou em coma por vários meses, foi adiado várias vezes e só sendo lançado em 1986. Quase 5 anos após o último lançamento. Originalmente o álbum se chamaria Technopop, mas acabou sendo lançado como Electric Café. Posteriormente, quando houve o relançamento remasterizado a partir de 2009, o nome Techno Pop foi recuperado. A cadência das batidas e o ritmo das canções, transformam este álbum como um dos precursores do movimento Techno e EDM que veríamos algum tempo depois. Uma temática ainda robótica, sem muitas novidades, mas com destaque nas faixas "Boing Boom Tschak", "Musique Non-Stop" e a fantástica "The Telephone Call", todas viraram hits em rádios e propagandas. Foi o primeiro LP do Kraftwerk a ser criado usando instrumentos musicais predominantemente digitais, embora o produto final ainda fosse gravado em fitas master analógicas. Bandas como Depeche Mode ou Human League ou mesmo New Order, beberam bastante destes ritmos. A meu ver é um dos menos inspirados. Também foi o último álbum com a formação clássica que incluía também Wolfgang Flür e Karl Bartos, que abandonaram a banda alguns anos depois.



The Mix
(1991) - O décimo álbum da banda, ...é praticamente uma coletânea de seus maiores sucessos, alguns com novas roupagens e mixagens, mas a própria banda divulgou que o álbum...não era coletânea e nem um álbum de remix que estava na moda no período!!! Uma falta de material novo e com diferenças internas impactando diretamente a produção, o Kraf lançou este álbum sem Wolfgang Flür e Karl Bartos (que chegou a começar a trabalhar em algumas faixas). Ela reflete os grandes sucessos do Kraftwerk em seus trabalhos ao vivo, algumas faixas por exemplo, "The Robots" e  "Radioactivity" , ganharam novas letras. Ao final, continuou o legado da banda, já que refletia a tendência da música eletrônica na qual foram coroados como pioneiro e influenciadores. Após o lançamento o álbum, as apresentações ao vivo cessaram por quase 9 anos e só retornariam aos palcos por volta do final dos anos 90, na qual estiveram pela primeira vez no Brasil, show que assisti e na qual tocam a maioria das músicas na versão deste álbum. 



Tour de France Soundtracks
(2003) - Se parecia que o Kraftwerk estava realmente de vagar, isto parecia realmente correto. Wolfgang Flür e Karl Bartos fora da banda a anos, vontade quase nenhuma de produzir algo novo, parecia que a influenciável banda, tinha perdido sua total criatividade. Mas a partir do final dos anos 90, eles começaram aos poucos retornar nos trilhos, voltaram a turnês(incluindo shows no Brasil), lançaram um single para a Expo Mundial de Hannover 2000, e lançaram um novo álbum de estúdio inédito (ou quase isto)...o Tour de France Soundtracks. Trilha sonora da famosa corrida de bicicletas que ocorre na França todos os anos. Fato alias, que não era inédito, já que o tema principal, já havia sido composto como single em 1983. Este novo álbum após 16 anos do último inédito, foi quase um parto. Mas Ralf Hütter e Florian Schneider entregaram o álbum redondinho. Mais de 50 minutos, com o tema da corrida e ao ciclismo, sempre batendo tecla no homem-máquina (simbiose do ciclista com sua bike). Alias os dois principais músicos eram fãs de ciclismo e praticavam bastante. As batidas e cadências que fizeram sucesso na banda estavam lá, mas não é de longe um belo trabalho. Faltou um pouco mais de criatividade. Mas mesmo tendo mais de 20 anos, o tema principal continua bem feito e tem algumas faixas interessantes como "Aerodynamik" e "Vitamin". Foi o último álbum de estúdio do Kraftwerk com Schneider antes de sua partida da banda em 2008 e seu falecimento em 2020.



Minimum-Maximum
(2005) - Com quase 40 anos de estrada e turnês (inclusive com três passagens no Brasil, na qual a primeira eu estive), o Krafwerk lançou seu primeiro álbum ao vivo em 2005, incluindo um DVD da então turnê. Um álbum duplo. Então estão lá todos os sucessos da banda com seus fundadores, Ralf Hütter e Florian Schneider, na última vez que os dois produziram algo juntos, já quem em 2008, Schneider deixou a banda. Muita batida eletrônica, bastante contemporânea do seu tempo, alias, são versões com muito mais batidas, que seus lançamentos originais, mesmo assim, não deixa de ser um deleite para os fãs, mas ficou a pena, que eles não produziram mais nada nos últimos anos. Como registro ao vivo, está de bom tamanho, ainda mais acompanhado do DVD bacana.




Bonus: Expo 2000  - single que o Kraftwerk após ser comissionado pela Expo Mundial Hannover 2000, lançou com o título original e vários mixes da banda e remixes de outros artistas. Não criavam algo novo desde o álbum 'Electric Café' de 1986. Tá bem trabalhado mas ainda está longe de seus primeiros trabalhos. 


Conclusão: Eu duvido que alguém não encontre nos últimos 40 anos, as batidas eletrônicas do Krafwerk em algum álbum de sucesso da música pop ou dance. A influencia do Kraftwerk foi além da música eletrônica ou dance music, ultrapassou as discotecas e casas noturnas, entrou no sei de movimentos pós-punks e levou o rock a partir das década de 80 a outro nível, até para bandas mais pesadas. Foi além do rock e chegou ao hip hop e ao funk, então se existe um certo exagero em afirmar que o Krafwerk seria os Beatles da música eletrônica, bem, sou meio suspeito para falar, já que sou fã da banda e da música eletrônica, mas em grande parte esta afirmação está correta. Foram revolucionários e influenciaram bastante gente. Podem não ter mudado o mundo como os Bealtes, mas ajudou a criar outro além da nossa capacidade e vão seguir influentes por muito tempo. Em 2011, foram finalmente induzidos no Hall da Fama do Rock'n'Roll, merecidamente !!!

Nota para banda :  5 de 5
Nota para Composições: 4 de 5
Tudo perfeito. Banda Evolution  !!!




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