sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Discografia completa revista - Joy Division(1976-1980)

 


A revisão de discografia que farei, é de uma banda, que começou como outra banda com um som bastante diferente. Geralmente, quando faço o review das bandas, sempre menciono o passado original delas, seus embriões antes de se tornarem uma banda de sucesso. No caso do New Order, o embrião dela, era o Joy Division, mas sua primeira formação, em uma discografia curta, foi tão marcante que seu legado continua até os dias de hoje, que será meio impossível separar as duas, como algo diferente, mas apenas uma evolução de som, integrantes e estado de espírito, abalados por uma tragédia pessoal que marcou todos os integrantes.

O Joy Division foi uma banda inglesa de rock, fundada em 1976, em Manchester. É notória por ser uma das bandas mais influentes da história da música, sendo uma das pioneiras do pós-punk e do rock gótico, com elementos sutis de música eletrônica. A banda também tinha como integrantes Bernard Sumner (guitarrista e tecladista, à época chamado Bernard Albrecht), Peter Hook (baixista e vocalista) e Stephen Morris (percussionista e baterista). Começaram como Warsaw e mudaram pra Joy Division, assim que assinaram com a Factory Records. Após tentar alguns vocalistas, optaram pelo jovem  Ian Curtis, que também era guitarrista ocasional da banda. Com esta formação eles decolaram, gravaram dois álbuns, mas quando estavam começando a chamar a atenção e se preparando para sua primeira turnê nos Estados Unidos, Curtis, cometeu suicido devido a seu estado emocional e depressivo, causado principalmente por questões ligadas a epilepsia que sofria (muitas vezes no palco...), os anos se passaram a banda se tornou cult, apesar de terem encerrado a atividade em 1980, com o a morte de Curtis. 


"Transmission"(1979) - Primeiro single do Joy, lançado como sobras de um álbum que a RCA iria lançar em 1978, do embrião do Joy Division, o Warsaw, mas acabou sendo abortado pela gravadora. Eles mudaram para o selo Factory Records e o nome da banda. Este single foi o primeiro lançamento oficial do Joy e até hoje é tocado nas apresentações do New Order/Peter Hook e virou um clássico do pós-punk (considerado até o início do movimento).Um grande single de estreia, baixo cadenciado do Peter Hook, batida firme e quase militar da batera de Stephen Morri, guitarra sem intromissão na música e é claro a voz constante, ríspida e quase robótica de Ian Curtis. O refrão fica pregado na cabeça e a música finaliza como uma batida do coração desacelerada...o single atingiu o  4° lugar na parada indie inglesa. Caminho aberto para um álbum...



Unknown Pleasures
(1979) - Lançado pela Factory Records, com a capa que se tornou icônica, apresentando um gráfico recebido do radiotelescópio de Arecibo, de um pulsar. Um álbum que não teve single de divulgação, e hoje se tornou cult. Em uma época que o punk já tinha dado seu grito revolucionário contra o sistema, este álbum tem elementos desta revolução, mas vai muito além dos três acordes. O que se destaque neste álbum, a bateria cadenciada de Stephen Morris, o baixo cheio de riffs de Peter Hook e a voz meio Bowie e ditosa de Ian Curtis. O álbum abre com "Disorder", uma música bem estranha uma muralha sonora psicológica quase intransponível para todos os músicos de rock pós-punk. Suas letras, arranjo e harmonia podem ser percebidos em praticamente todos os trabalhos posteriores do gênero realizados por artistas da área. "Day of the Lords", faixa seguinte é mais discursiva, com Curtis, parecendo fazer uma homilia de missa. "Candidate" e "Insight"  sãos mais músicas de lamentação não fugindo a regra desde o começo do álbum. E para finalizar o lado A, "New Dawn Fades", que a meu ver é a música mais interessante até aqui, com diferentes camadas e melodia mais pop, diferente do ar deprê do álbum em si. Ela conta com um riff de guitarra ascendente de Bernard Sumner tocado contra um riff de baixo descendente de Peter Hook. A música usa a mesma progressão por toda parte, mas cresce em intensidade conforme a música avança, atingindo seu pico com Ian Curtis cantando "Me, seeing me this time, hoping for something else"(Eu, me vendo desta vez, esperando por outra coisa), e terminando com um solo de guitarra. O lado B, começa com a música que se tornou um clássico da banda, "She's Lost Control", que Curtis compôs sobre uma garota que tem epilepsia, a mesma doença dele. Continua até hoje um clássico e sempre tocada nos shows do New Order ou do Peter Hook. "Shadowplay", começa com a batida do baixo de Hook e depois a bateria cadenciada de Morris, com Curtis entrando com um vocal em um modo mais discursivo. Uma grande faixa alias. O lado B começou ótimo. "Wilderness", com cadência militar os instrumentos da banda e uma voz meio "Bowie" de Curtis, também bastante interessante. "Interzone", mais agitada e menos melódica, uma festa punk. "I Remember Nothing", fecha o disco com uma música mais sombria e melosa. Sons tristes, sombrios, melancólicos, praticamente definindo o momento dark/gótico, sem ser exatamente isto, um rock de desesperados, desiludidos, desempregados...reflexos da época pós-punk. O álbum chamou muita atenção, apesar de ser classificado ainda como banda indie. Chegou a marcar o 5° lugar nas paradas inglesas para surpresas de muitos pela descoberta de um novo som. E primeiro lugar na parada indie também britânica. O início de um voo promissor maior...


Closer
(1980) -  Factory Records, não perdeu tempo, e lançou o segundo álbum do Joy Division, menos de um ano depois do primeiro. Entre o primeiro e segundo álbum notamos algumas mudanças no som da banda. Continua com as lamentações da letras cantadas por Ian Curtins, a cadência quase militar da bateria de Morris, a guitarra distorcida de Sumner e o baixo com os riffs inconfundíveis do bass hero, Peter Hook. A banda continua em seu caminho Pós-punk e Rock gótico, que influenciaram bastante os anos e décadas seguintes.  "Atrocity Exhibition"  a música que abre, tem uma batida que lembra um 'samba sombrio', "Isolation" , "Passover"  e "Colony"  são músicas melhores construídas que a primeira, e parece seguir na mesma direção do álbum anterior, com uma guitarra mais suja e as atitudes de Hook de sempre pontuar as canções com os toques melódicos do seu baixo enquanto Curtis, canta como um Bowie robótico com toques de Kraftwerk."A Means to an End" , a última música do lado A, praticamente define um ritmo de dança gótica de salão, uma das melhores do álbum até aqui. Lado B, começa com "Heart and Soul" , que tem uma batida cadenciada de forma invertida, e "Twenty Four Hours" tem um baixo ao estilo punk de 3 acordes de Peter Hook, tocando enquanto Curtis, faz um discurso meloso e musical, mais interessante que a anterior. "The Eternal", é uma música cantada em forma de lamentação por Curtis durante 6 minutos, enquanto segue um rítmo de marcha fúnebre...e a última, "Decades", tem uma pegada mais rock com batidas variadas do baixo de Hook e variações com música eletrônica dando um ar mais deprê, também 6 minutos, ao som de um rock gótico. O álbum foi 6° lugar das paradas inglesas (sendo que atingiu o 1° lugar na parada indie). Também foi 3° lugar na Nova Zelândia. Foi o último álbum da banda, lançado poucos dias depois do suicido de Curtis. A capa do álbum que foi tirado de uma tumba no Cemitério Staglieno, em Gênova, Itália,  acabou sendo uma infeliz coincidência. Ao meu ver, Closer segue bastante o álbum anterior, e tem mais variações nas músicas, consigo até ver um pouco de eletrônica, tentando criar uma atmosfera mais densa nas músicas, como foi o caso de "Decades", mas não uma evolução maior. Em todo caso com a morte de Curtis, o Joy Division deixou de existir...Chegou ao 6° lugar das paradas inglesas e 1° lugar na parada indie britânica.



Still
(1981) - O fim do Joy Division, com a morte de Curtis, não foi o fim dos lançamentos. A banda estava ganhando projeção quando aconteceu a tragédia pessoal de Ian. Obviamente a gravadora não queria ficar na mão, já que com o falecimento de Ian, havia surgindo um culto em volta da banda e já no ano seguinte ao fim prematuro dela foi lançado pela Factory Records, esta compilação, na verdade um álbum duplo. Consiste em material de estúdio não utilizado ou indisponível anteriormente e gravações ao vivo. O álbum inclui a única apresentação ao vivo do grupo da música "Ceremony", que mais tarde se tornou single do New Order. Material que teve boa aceitação dos fãs, avidos pelos espólios da banda. As três primeiras faixas do disco 1, "Exercise One", "Ice Age", "The Sound of Music", devem ser material lá do fundo do baú, cortadas dos discos. Músicas bem sombrias e de lamentação com uma atmosfera bem gótica. Não achei elas lá interessante, mais por curiosidade mesmo. Já "Glass", tem uma pegada melhor apesar de ser uma baladinha triste, fechando o lado A com "The Only Mistake". Lado B do disco 1, segue mais três musicas de atmosfera gótica muito iguais: "Walked In Line"(esta aqui com o refrão bem repetitivo), "The Kill" e "Something Must Break". Chegamos a "Dead Souls", que pela pegada do baixo de Hook, lembra bastante as futuras músicas do New Order, sim, temos um pouco de alegria na melodia (não sei bem da letra), e o disco 1 fecha com uma faixa ao vivo "Sister Ray", do Velvet Underground, com direito a microfonia e experimentação na faixa, estendendo ela por uns 7 minutos, muito improviso.

Partimos para o disco 2 totalmente ao vivo, uma apresentação na Universidade de Birminghan, de 2 de maio de 1980, que foi a última apresentação do Joy Division, 16 dias antes do suicídio do vocalista Ian Curtis. Começamos três músicas "Ceremony", "Shadowplay", "A Means To An End","Passover" são musicas tocadas ao vivo que mostram que sua melancolia, atormentos, atenção, lamentações, são passadas de forma ríspidas pelas músicas na voz 'quase Bowie' de Curtis e as cadências das batidas da banda. Mostram que ao vivo, são bem improvisados e não conseguem tirar o máximo como no álbum de estúdio, talvez por não ligarem muito para qualidade, já que eram considerados uma banda independente. Já "New Dawn Fades", é uma música que conta com um riff de guitarra ascendente de Bernard Sumner tocado contra um riff de baixo descendente de Peter Hook. A música usa a mesma progressão, mas cresce em intensidade à medida que progride, atingindo seu pico com Ian Curtis cantando "eu, me vendo desta vez, esperando por outra coisa", terminando com um solo de guitarra . Então são surpresas interessantes para ouvidos mais atentos."Twenty-Four Hours", outra música bem interessante das lamentações de Curtis. Lado B: "Transmission" , se tornou um clássico, o primeiro single da banda, que alias, não está no álbum. Eles tocam ela bem maneira ao vivo. "Disorder" e "Isolation", são quase variações do mesmo tema que tornou a banda com seu rock noturno e sombrio famoso. Então chegamos a "Decades", eu simplesmente achei uma grande surpresa, a melhor música do álbum, foi tocada ao vivo muito bem, ela tem variações no ritmo ao longo dos seus 5 minutos , batida legal e um clima criado com sintetizador, que mostra um caminho que seguiriam com o New Order depois. "Digital" , mais um single fora dos dois álbuns originais... Bônus: "Love Will Tear Us Apart" (recorded live at High Wycombe Town Hall fev/1980), a mais famosa música da banda, quase seu legado, que foi lançado apenas como single póstumo alguns meses depois da morte de Curtis. Ao vivo ela é interessante, mas não atinge sua grandeza como no estúdio. Ao fim, você chega a conclusão que eram uma banda que tinha muito melhor performances em estúdio do que ao vivo, mas seus shows, atraiam cada vez mais multidão... Este álbum atingiu o 5° lugar dos mais vendidos no Reino Unido e 1° lugar na parada indie britânica, mantendo a tradição da banda, mesmo ela não existindo mais.


Substance
(1988) - Coletânea com os maiores sucessos e singles da banda, lanaçado em 1988, época que o New Order já havia estourado. Algumas músicas nem estão nos dois álbuns oficiais, mas já se tornaram clássicas. "Warsaw", gravada em 77, mas publicada em um EP , "An Ideal for Living" no ano seguinte, tem uma pegada bem pesada e punk. É polêmica, pois tem citações nazistas na mesma. A canção parece ser uma biografia um tanto fantástica de Rudolf Hess, vice-Führer de Hitler, que voou para a Grã-Bretanha em 1941 na tentativa de negociar a paz entre a Alemanha e o Reino Unido, supostamente por causa de sua desilusão com o nacional-socialismo.  "Leaders of Men", tem aquela pegada do baixo de Hook, logo na entrada e toda cadência que acompanharia a banda até sua curta trajetória, também do E.P. inicial da banda  " An Ideal for Living". "Digital", tem uma pegada mais balada rock seguido da esquizofrenia normal da banda, também saiu em um E.P. de coletâneas da Factory e posteriormente no Still. "Autosuggestion", outra faixa que havia saído em um EP de coletâneas de bandas da Factory, tem uma batida mórbida no começo que vai prolongando até entrar a voz do Curtis já no meio e volta as batidas instrumentais. "Transmission", a melhor faixa da banda, com sua inspiração bem Kraftwerk. "She's Lost Control", é outra música clássica, sobre o relacionamento de Curtis e sua esposa Debbie, cantada em forma de lamento. "Incubation", faixa Lado B do single "Komakino", com um rock bem trabalhado . "Dead Souls", é uma balada bem trabalhada, que lembra futuros trabalhos do New Order com um pouco de melancolia."Atmosphere", é uma faixa linda mas triste parecendo quase uma despedida de Curtis. Finalmente "Love Will Tear Us Apart" , a faixa mais famosa do Joy Division, quase seu cartão postal para as novas gerações que querem conhecer a banda, com sua batida e pegada mais pop, sobre um amor dilacerado (mais uma vez o relacionamento conjugal de Curtis), marco de gerações e que fez a banda atingir paradas...uma pena que o artista tenha morrido antes do sucesso...esta coletânea é uma boa pedida pra começar a conhecer o Joy. Mesmo a banda não existindo mais, mas já tendo sua sucessora New Order reinando nos charts ingleses, esta coletânea não fez feio em 1988, atingindo 7° lugar das paradas e Primeiro Lugar nos charts indies britânicos. 


Conclusão: Joy Division foi uma banda realmente muito interessante, longe de ser uma das melhores da história, com certeza, seu culto ao longo dos anos, a transformaram em um mito junto com seu líder desaparecido, Ian Curtis. Filmes, livros, novas gravações, documentários, são feitos de tempos em tempos, tentando entender sua ascensão e desaparecimento rápido em uma questão de dois anos e como ela ajudou a moldar o que chamamos de movimento pós-punk e gótico, ao incorporar em suas letras, melancolia, desprezo, sons sujos, romantismo utópico e um pouco de eletrônica para criar seus sons que vão do estranhamento ao avant garde de vanguarda. Então, se você quer tentar descobrir um pouco desta enigmática banda, a discografia completa dela ajuda a entender, mesmo que não totalmente o que propunham ou ...não. Mas seus membros estavam corretos em finalizar a banda com a morte de Curtis, e começar um novo projeto, diferente, a partir de suas cinzas...

Nota para banda :  4 de 5

Nota para Composições: 3 de 5