sexta-feira, 6 de julho de 2018

PAULISTA SUBTERRÂNEA – UMA ÓTIMA IDEIA QUE PRECISA SER REATIVADA




Projeto da Av.Paulista Subterrânea (anos 60)
A Avenida do Povo de São Paulo

Avenida Paulista, centenária, considerada como símbolo da cidade de S.Paulo. Diversificada, onde arranha-céus de grandes cooperações e bancos, se espremem junto com galerias de arte, restaurantes, shopping centers, igrejas,hospitais,algumas poucas residências, escolas e faculdades e também um parque com muito verde e árvores. Junto a tudo isto ao mesmo tempo é  uma das principais vias de transito da cidade, onde várias ruas cruzam a mesma, como se a avenida fosse um grande coração pulsante na qual artérias e veias bombeiam o transito por ela. E é claro, não podemos esquecer que debaixo da terra…ainda corre uma linha de metrô a mais de 20 anos… E ainda existe o principal...em suas calçadas, milhares de  seres humanos circulam a pé seus mais de 2 Km de extensão todos os dias.

Avenida Paulista - Século XXI

Considerada um dos principais centros financeiros da cidade, assim como também um dos seus pontos turísticos mais característicos, a avenida revela sua importância não só como pólo econômico, mas também como centralidade cultural e de entretenimento. É lá que ocorre as comemorações das grandes conquistas das maiores torcidas de time de futebol paulistano. Onde também todo ano ocorre a maior parada GLS do mundo e ainda a famosa "Corrida de São Silvestre", que em todo 31 de dezembro, fazem milhares de atletas do mundo inteiro disputam o "último título esportivo internacional do ano". E a pouco tempo, para democratizar mais o espaço, aos domingos e feriados, a Avenida é fechada totalmente ao trânsito e aberta apenas para que a população possa desfrutar do espaço a pé ou de bicicleta através da ciclovia que cortam a avenida de ponta a ponta.

História

A avenida foi criada no final do século XIX, a partir do desejo dos paulistanos em expandir na cidade novas áreas residenciais que não estivessem localizadas imediatamente próximo às mais movimentadas centralidades do período, por essa época altamente valorizadas e totalmente ocupadas, tais como a Praça da República, o bairro de Higienópolis e os Campos Elísios. A avenida Paulista foi inaugurada no dia 8 de dezembro de 1891, por iniciativa do engenheiro Joaquim Eugênio de Lima e do Dr. Clementino de Souza e Castro (na época Presidente do conselho de intendências da cidade de São Paulo, atual cargo de prefeito), para abrigar os paulistas que desejavam adquirir seu espaço na cidade.

Inauguração da Av.Paulista - 1891


Naquela época, houve grande expansão imobiliária em terrenos de antigas fazendas e áreas devolutas, o que deu início a um período de grande crescimento. As novas ruas seguiam projetos desenvolvidos por engenheiros renomados, e nas áreas mais próximas à avenida e a seu parque central os terrenos eram naturalmente mais caros que nas áreas mais afastadas; não havia apenas residências de maior porte, mas também habitações populares, casebres e até mesmo cocheiras em toda a região circundante. Seu nome original seria "Avenida das Acácias" ou "Prado de São Paulo", mas Lima declarou:
- “Será Avenida Paulista, em homenagem aos paulistas.”

No fim do anos 1920, seu nome foi alterado para avenida Carlos de Campos, homenageando o ex-presidente do estado, mas a reação da sociedade fez com que a avenida voltasse a ter o nome com o qual foi criada e é conhecida até os dias de hoje.

Joaquim Eugênio de Lima (1845-1902), uruguaio, associou-se a João Borges de Figueiredo e João Augusto Garcia e iniciaram a compra de terrenos no espigão entre os rios Tietê e Pinheiros. Em 1890 adquiriram na rua Real Grandeza (depois avenida Paulista) dois terrenos de José Coelho Pamplona e de sua mulher Maria Vieira Paim Pamplona e no mesmo ano mais dois lotes de Mariano Antonio Vieira e de sua mulher Maria Izabel Paim Vieira. Depois adquiriram a Chácara Bela Cintra de Cândido de Morais Bueno. Toda a região local servia na época de passagem de boiadas a caminho do matadouro. O plano da avenida foi elaborado pelo agrimensor Tarquinio Antonio Tarant e, como deveria ser plana, exigiu o aterro de um vale na atual avenida 9 de julho. A avenida Paulista tinha cerca de três quilômetros de comprimento e doze metros de largura e foi dividida em: uma parte para bondes, a do centro para carruagens e a outra para cavaleiros, todas ladeadas por Daiélsios e Rodriguzes. O piso carroçável era coberto por pedregulhos brancos. Foi inaugurada, juntamente com a linha de bondes em 1891. O bonde elétrico chegou nove anos depois, em 1892. Em 1898 procedeu-se a uma reforma, com novo calçamento, derrubada de quatro fileiras de árvores e alargamento dos passeios, que foram arborizados com ligustruns e ipês.

O projeto era similar ao das grandes avenidas europeias, que aos poucos, a nascente burguesia paulistana passou a ocupar com elegantes e requintados casarões, transformando-a numa das referências mais consagradas da cidade.  A avenida foi aberta seguindo padrões urbanísticos relativamente novos para a época: seus palacetes possuíam regras de implantação que, como conjunto, caracterizaram uma ruptura com os tecidos urbanos tradicionais. Os novos palacetes incorporavam os elementos da arquitetura eclética (tornando a avenida uma espécie de museu de estilos arquitetônicos de períodos e lugares diversos) e dos novos empreendimentos norte-americanos: estavam todos isolados no meio dos lotes nos quais se implantavam, configurando um tecido urbano, diferente do restante da cidade, que alinhava a fachada das edificações com a testada do terreno. Isso fez com que a avenida possuísse uma amplidão espacial inédita na cidade.

Av.Paulista - início do século XX - casarões dos Barões do Café


A avenida Paulista foi a primeira via pública asfaltada de São Paulo, em 1909, com material importado da Alemanha, uma novidade até na Europa e nos Estados Unidos. Esse perfil estritamente residencial da avenida permaneceu até meados da década de 1950, quando o desenvolvimento econômico da cidade levava os novos empreendimentos comerciais e de serviços para regiões afastadas do seu centro histórico.


Durante as décadas de 1960 e 1970, porém, e seguindo as diretrizes das novas legislações de uso e ocupação do solo, e a valorização dos imóveis incentivada pela especulação imobiliária, começaram a surgir naquele local os seus agora característicos "espigões" - edifícios de escritórios com 30 andares em média. Durante esse período, a avenida passou por uma profunda reforma paisagística. Os leitos destinados aos veículos foram alargados e criaram-se os atuais calçadões, caracterizados por um desenho branco e preto formado por mosaico português. O projeto de redesenho da avenida ficou a cargo do escritório da arquiteta-paisagista Rosa Grena Kliass, enquanto o projeto do novo mobiliário urbano da avenida foi assinado pelo escritório Ludovico & Martino.


No subterraneo

Em 1967, engenheiro Figueiredo Ferraz(1918 - 1994) e o arquiteto Nadir Mezerani, conceberam a ideia chamada "Nova Paulista", que tinha por objetivo principal, transferir o transito de veículos da superfície para uma área subterrânea, e deixar a parte de cima da avenida livre para circulação de pedestres. O prefeito da época, Faria Lima, acatou a ideia e começou a tirá-la do papel. As primeiras obras de ligação foram realizadas entre a Avenida Rebouças, Paulista, Doutor Arnaldo e a Rua da Consolação. O primeiro trecho foi inaugurado em 1971.  Isto se tornou o exemplo factível do que poderia ter se tornado a Paulista em toda sua extensão.





Projeto da Av.Paulista Subterrânea (anos 60/70)


Logo após essa inauguração, Figueiredo Ferraz é eleito para a prefeitura da cidade de São Paulo. Sua obra é levada adiante pelos subterrâneos da Avenida Paulista e as escavações avançaram até a outra ponta, mais especificamente, na região da Paraíso. O projeto passou a sofrer forte oposição por parte do governo militar que tomava conta do país. O prefeito Ferraz, então, começou a se indispor com a ditadura e, em 1973, o governador Laudo Natel o demitiu por carta e nomeou Miguel Colassuono como novo mandatário da cidade. Sua primeira atitude, obviamente, foi interromper a obra iniciada por Figueiredo Ferraz.

Colassuono alargou a Paulista e abandonou o túnel deixando, assim, a transformação da avenida em calçadão inviável. Segundo Nadir Mezerani, um dos autores do projeto, a Nova Paulista sofreu forte oposição devido aos apartamentos, escritórios e outros empreendimentos que haviam ocupado, de maneira indevida, o subsolo da avenida.

 A ideia era resgatar, de certa forma, o ambiente proposto por Joaquim Eugênio de Lima, o responsável por projetar a Paulista. “A ideia [do projeto Nova Paulista] era preservar a convivência social e permitir que a pessoa andasse e atravessasse a rua sem precisar ir até o próximo quarteirão”. A Nova Paulista ainda dialogava com o grande cartão-postal da avenida, o Masp (Museu de Arte de São Paulo), projetado com um grande vão livre pela arquiteta Lina Bo Bardi e inaugurado em 1968. "A Lina já previa que em frente ao Masp os carros deveriam passar por baixo. E eu respeitei. Já era ideia da Lina unir o Masp com o Parque Trianon", relata Mezerani.



Unica trecho subterrâneo que existe. Trecho perto da Dr.Arnaldo /Consolação/Rebolças


O túnel semiaberto também contaria com galerias comerciais e se interligaria com a linha 2-verde do Metrô, projetada para passar no nível abaixo. A via subterrânea teria conexões com as avenidas 9 de Julho e 23 de maio e com a praça Oswaldo Cruz. A passagem das outras vias transversais permaneceria na superfície, cortando o calçadão.


Um projeto abandonado e uma nova visão

Na opinião do arquiteto Nadir Mezerani, a insatisfação com obras concluídas na época como o Minhocão e a praça Roosevelt, na região central, ajudou a reforçar as críticas ao projeto da Paulista. "Foi fácil comparar a obra da Paulista com mais um monstrengo de concreto", diz Mezerani. Ele e o escritório Figueiredo Ferraz trabalharam posteriormente na revisão do projeto e o apresentaram a outras gestões municipais, como a de Marta Suplicy (PT) que vetou o projeto. Para o arquiteto, o projeto mantém sua força porque a Paulista tem uma grande importância econômica e se transformou no "centro cívico" da cidade.





Projeto revisto por volta do ano 2001


Além disso, a cidade tem grande carência de espaços de convivência e lazer. "A Paulista é a centralidade. Virou o símbolo da cidade. Para o ambiente urbano, é indispensável jogar os carros para baixo [para o subsolo]". Segundo Mezerani, não é mais possível fazer um túnel semiaberto. A solução agora seria construir um túnel fechado. Ele calcula que a obra toda poderia ser concluída em um prazo de três anos.

Recentemente, durante a gestão de Fernando Haddad(PT), uma ciclovia foi incorporada no canteiro central da avenida, e aos domingos e feriados, a Paulista é fechada completamente para o transito, deixando livre para a população andar e passear, projeto que tem sido mantido na gestão João Doria/Bruno Covas (PSDB).

Mas e as 22 galerias abandonadas do projeto ? Segundo reportagem do Estadão de S.Paulo de dezembro de 2010, o mapeamento realizado pela antiga Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), atual SP Urbanismo, mostra que esses espaços no subsolo variam de 26 a 2.440 m², somando cerca de 13 mil m². Como o preço do metro quadrado de depósitos subterrâneos na região fica entre R$ 3 mil e R$ 5.300, de acordo com avaliação da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), a Paulista guarda nessas galerias um patrimônio que chegaria a R$ 62 milhões, se as áreas estivessem em bom estado. Os espaços estão deteriorados e precisam de reformas. Hoje essas galerias são públicas, mas nenhum departamento da Prefeitura soube informar quem é responsável por elas. Os dados sobre a existência ou não de projetos de uso do local são controversos e a assessoria de imprensa da Prefeitura evita comentar o assunto, alegando que nada pode ser feito ali.

Na época do início do projeto no final dos anos 60, a via foi expandida em 10 metros de cada lado, passando de 28 para 48 metros de largura. Com o recuo dos prédios, as entradas e as instalações subterrâneas - a maioria garagens - foram desapropriadas, dando origem a bolsões. Eles ficaram abandonados após a suspensão das obras, em 1973. Só em 2004, por iniciativa da Associação Paulista Viva, o uso do espaço voltou a ser discutido com a Prefeitura. No entanto, o comitê técnico formado não seguiu adiante, por causa da dificuldade de achar solução viável. Segundo o arquiteto Nadir Mezerani, hoje o caminho do túnel tem pela frente 22 construções irregulares, entre elas, garagens de prédios, o caixa-forte de um banco estatal e a quadra de esportes de um clube. Segundo a Paulista Viva, das 22 galerias, pelo menos 9 estão ocupadas irregularmente por prédios e lojas. A SP Urbanismo não descarta ocupações ilegais. "Quando a Prefeitura fizer um novo cadastro, vai achar até o que Deus duvida", disse Regina Monteiro, diretora de Paisagem Urbana da SP Urbanismo.

Em 2014, a cineasta Sonia Guggisberg, lançou o curta-documentário “Subsolo”, contando a história do projeto com entrevistas com  Boris Casoy (porta voz do prefeito na época), do arquiteto Nadir Mezerani, do urbanista Celso Franco, entre outros. Sonia encontrou a avenida subterrânea quando pesquisava aquíferos para seus projetos de vídeo-instalações. A partir dessa descoberta, há um ano e meio atrás, iniciou uma pesquisa que resultou num documentário sobre o “subsolo social” brasileiro, com o objetivo de trazer à luz histórias ocultas. Na esteira desse espaço público soterrado, Sonia mapeou diversas histórias que foram escondidas, do regime militar até hoje. Uma delas é a formação do Ibama, criado como uma estratégia política para que o Brasil recuperasse relações internacionais e limpar a barra nas questões ligadas ao meio ambiente.





Eu ainda sonho com o Projeto da Paulista Subterrânea...



Fonte: Wikipedia








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