domingo, 26 de junho de 2022

Obrigado Vangelis...(1943 - 2022)

 



Dia 19/05, uma noticia de uma perda artística chegou pra mim ...Vangelis havia falecido em Paris, aos 79 anos dois dias antes...Foi realmente algo muito difícil de acreditar, um verdadeiro choque. Sou fã do Vangelis desde criança, antes mesmo de conhecer quem era pessoalmente. Ele era o tipo de artista que você começa admirar primeiro a obra e só anos depois fazer a associação com o artista. Ele e Jean Michel Jarre (e um pouco Kraftwerk), tem histórias parecidas comigo.

No final dos anos 70 e começo dos anos 80, a música eletrônica instrumental, começava a invadir os espaços das rádios e programas de TV. Geralmente usada em vinhetas de propagandas ou aberturas ou fechamentos de programas conhecidos da TV. Foi assim que a músicas destes artistas chegavam ao meu ouvido, na minha fase infantil. Quando é um momento de formação do ser humano, quando ficamos atentos ao que se passa ao redor da gente. Aquele tipo de música 'legal', 'envolvente' e ao mesmo tempo 'estranha' e 'viajada' e até 'cósmica' entrava e saia da minha cabeça soltando doses de endorfina pelo corpo, me deixando em um estado de alegria passageira. 


Alguns momentos são bem registrado e agora consigo catalogar, primeiro foi a música "Pulsar" que foi tema dos cigarros Advance, da Souza Cruz, em uma época na qual propaganda de cigarros eram livres e as agencias de publicidades gastavam horrores em produções de comerciais sofisticados. Isto foi em 1980. Estava 1° série do primário, a música fez tanto sucesso que a Souza Cruz patrocinou o lançamento de um single compacto nas lojas pela antiga RCA. Hoje este single vale uma nota no EBay. 


Em 1981, estreou nos cinemas o filme "Carruagens de Fogo", sobre dois corredores britânicos nos Jogos Olímpicos de 1924. Fui ver o filme com minha mãe, eu gostei bastante porque queria ser atleta quando crescesse. Mas o mais envolvente era a trilha sonora...ela estava fazendo tanto sucesso na época, que o tema principal de Chariots of Fire, foi aproveitado na trilha sonora da novela global "Sétimo Sentido" da Rede Globo...e quando algo chega na Globo, vira atração nacional. E qual foi a surpresa que no mesmo ano, o FANTÁSTICO, exibiu o vídeo-clip de Chariots of Fire, e pela primeira vez, vi um senhor barbudo fumando e sentado ao piano tocando a música quando o filme rolava em um telão ao fundo...sim, era o próprio Vangelis, mas não me dei conta quem era, só tinha achado fantástico. A música saiu no LP da novela, mas a Globo não pode colocar a original por questão dos direitos autorais, então convidou outra banda chamada Spirits para tocar no lugar... e a música foi fazendo muito sucesso a ponto de no Oscar de 1982, ser indicada...e ganhar, batendo o imponente tema de "Caçadores da Arca Perdida" de John Williams. Acreditem a música do Indiana Jones perdeu para música do Vangelis !!! O próprio artista, pensando que não iria ganhar, nem se deu o trabalho de ir a cerimônia, permanecendo na Europa.



Entre Janeiro e Abril de 1983, a Rede Globo de TV, apresentou um programa americano de divulgação de ciências, COSMOS, na qual eu consegui assistir as reprises nas manhãs de domingo...e olha lá quem fazia parte da trilha sonora...Vangelis !!! Carl Sagan apresentava  o mundo , o ser humano e o universo em um programa sobre ciências, que me fez apaixonar perdidamente pelo espaço. A abertura era "Heaven And Hell" Part 1.



O tempo ia passando e a Globo as vezes usava a música dele em vinhetas de programas, como da Fundação Roberto Marinho, ao longo da década de 80. Ou usando a trilha sonora do filme "Antartida", nos documentários sobre as regiões geladas dos polos extremos do planeta. A grande questão era que nunca associava aquela música a um determinado artista. Mas após 1986, tudo mudou pois conheci o trabalho de Jean Michel Jarre, e as músicas dele me levaram a trabalhos semelhantes onde finalmente conheci Vangelis, descobrindo ali, um importante artista, que simplesmente me abriu a mente para músicas maravilhosas. Trilhas de filmes e documentários inesquecíveis. Não apenas "Carruagens de Fogo", mas também "Rebelião em Alto Mar", "Blade Runner - O Caçador de Androides" um dos meus filmes inesquecíveis e "1492 - A Conquista do Paraiso", cuja a trilha sempre era associada a eventos religiosos, assim como "Chariots of Fire", era relacionados com temas de esporte e fez parte das chamadas da Corrida anual de São Silvestre. 



Com o tempo comecei a adquiri os álbuns do artista, suas trilhas sonoras e acompanhar seus trabalhos ao longo da vida. Ele esteve sempre envolvido com temas espaciais, a ponto da NASA  e a ESA pedirem pra ele compor temas de missões espaciais. Sendo que seus últimos lançamentos foram os temas da missão "Rosetta" a um cometa e a missão "Juno" a Júpiter e seus satélites.


Entre seus álbuns não associados a trilhas sonoras, gosto muito da trilogia que fez em seu estúdio Nemo em Londres:  "Heaven and Hell", "Albedo 0.39" e "Spiral", verdadeiras space musics lançadas nos anos 70.


Mas sem sombra de dúvidas, minha trilha sonora preferida é a do filme "Blade Runner - O Caçador de Androides" que infelizmente perdi a exibição nos cinemas em 1982 (mesmo porque era muito pequeno e não iria entender nada). Com o tempo o filme mudou bastante em meu conceito a medida que o culto sobre ele cresciam e que finalmente pude assistir nos cinemas(versão final de Ridley Scott) por volta de 2017, com direito a um grande aplauso da plateia. Não descansei até comprar a trilha sonora original, em uma edição belíssima de 3 discos, Blade Runner - Trilogy. Já tinha a versão da New American Orchestra, e a edição remaster de 1991, mas a definitiva pra mim foi esta última. 


Nos últimos anos tenho tentando acompanhar seu trabalho, comprando alguns CDs e aumentando a coleção, mas Vangelis sempre será inesquecível, não importa se não esteja mais entre nós, a obra será eterna...


Gratidão e Obrigado Evángelos Odysséas Papathanassíu...nosso querido Vangelis !!!


2 comentários:

  1. Com alguns anos de diferença, pois sou um pouco menos novo que vc, minhas experiências com Vangelis, e também Jean Michel e Kraftwerk, são bem semelhantes. Por isso me identifiquei muito com seu texto, Ricardo. Belíssimo. Gostaria muito que Vangelis pudesse tomar conhecimento dele, mesmo não estando mais aqui.

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  2. Como eu creio em algo superior, acho que ele gostou e sempre irá gostar das homenagens a sua obra imortal...

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